São Paulo, sexta-feira, 10 de outubro de 2008

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UFRJ usa célula de embrião para curar cobaia paralítica

Eficácia de técnica nova no Brasil passou de 50% em trabalho de grupo carioca

Apesar do bom resultado, pesquisadores precisam ter certeza de que a técnica não vai provocar câncer antes de fazerem testes em humanos

Sociedade Max Planck
Células nervosas de camundongo com sinapse ativa (amarelo)

EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Um grupo de cientistas brasileiros conseguiu reverter as conseqüências de uma lesão de medula espinhal usando uma injeção de células-tronco embrionárias em camundongos. O feito inédito no país, obtido na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), teve parte de seu sucesso relacionada com o estágio de desenvolvimento das células aplicadas diretamente sobre área lesionada.
Segundo Stevens Rehen, que apresentou o trabalho sábado passado no 3º Simpósio Internacional de Terapia Celular, em Curitiba, foram usadas células nervosas "genéricas". Segundo o pesquisador, o material usado já tinha passado do estágio puramente embrionário, mas ainda não tinham se transformado em neurônios.
"Nós demos um espaço para as células decidirem o que iriam fazer", disse Rehen.
As células embrionárias interessam à ciência exatamente por causa dessa característica que elas têm de se multiplicarem e se transformarem em vários tipos de tecido. Tanta versatilidade não é observada em nenhum outro grupo celular.
Mas usar essas células quando ainda estão num estágio muito precoce é inviável, mostram pesquisas, porque o risco de surgir um tumor é enorme. As células crescem de forma totalmente desordenada.
"O estágio das células que nós usamos é o equivalente a você criar um filho e deixar ele decidir entre ser engenheiro ou advogado. Mas se ele quiser ser músico, aí não pode" brinca Rehen, que foi apenas um colaborador do estudo. Quando se precisa de um neurônio, não adianta a célula virar uma hemácea, explicam os cientistas.
"A recuperação motora observada nos animais após dois meses foram significativas, acima de 50% do grupo que teve a lesão, mas que não foi tratado", disse a autora principal do trabalho, Suelen Paredes, do grupo de pesquisa de Ana Maria Martinez, também da UFRJ. "Os testes foram feitos em casos agudos. As injeções foram aplicadas logo em seguida à lesão ter sido provocada".
Segundo Paredes, a lesão da medula espinhal provocada por ela é feita por compressão, de forma semelhante ao que ocorre nos seres humanos durante um acidente automobilístico.
O próximo passo da pesquisa, agora, é marcar as células com uma técnica especial, que vai permitir acompanhar como esse novo material celular se desloca após ter sido injetado.
Dessa forma, os pesquisadores pretendem descobrir exatamente o que está causando a regeneração da mielina -o material que protege a superfície de alguns neurônios- um processo já detectado por eles.
A presença da mielina no sistema neurológico, afirma Rehen, está relacionada de forma direta com a melhora de função motora dos animais do teste.


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