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Brasil não transforma ciência em lucro
Segundo nova pesquisa, país investe tanto quanto Espanha ou Itália, mas não consegue inovar em tecnologia
Cientistas não saem da academia; décadas de mercado fechado teriam acomodado a iniciativa privada, diz Unesco
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
O Brasil já gasta tanto com
ciência quanto a Espanha ou
a Itália, mas ainda está atrás
de ambas na sua capacidade
de transformar esse dinheiro
em resultados palpáveis.
Essa é a conclusão de um
novo relatório da Unesco,
que é divulgado de cinco em
cinco anos. Entre 2002 e
2008, os anos utilizados como referência, o investimento em pesquisa no país passou de R$ 25,5 bilhões para
R$ 32,7 bilhões.
Esse foi um dos fatores que
fizeram a produção científica
brasileira pular de 12 mil artigos científicos para 26 mil
nesse período.
A outra causa, na opinião
de Hugo Hollanders, especialista holandês em inovação que é um dos responsáveis pelo relatório da Unesco,
foi a evolução da internet, especialmente da banda larga,
que permitiu a difusão mais
rápida do conhecimento entre os pesquisadores dos países em desenvolvimento.
"A ciência mundial era dominada por Europa, Japão e
EUA, mas o mundo está se
tornando gradualmente multipolar. Coreia, Brasil, China
e Índia estão desenvolvendo
as suas potencialidades, ainda que a África continue atrasada em relação às outras regiões", disse Irina Bokova,
diretora-geral da Unesco.
A situação asiática, porém, é melhor do que a brasileira. Hollanders lembra que
"nos últimos cinco anos,
muitos líderes acadêmicos
americanos e europeus têm
recebido convites de trabalho e vultosos orçamentos de
pesquisa em universidades
do Leste Asiático".
SEM EMPRESAS
O grande problema do Brasil, porém, é escorregar na
hora de tirar a pesquisa da
universidade e levá-la às empresas, diz o relatório. Três
quartos dos cientistas do país
estão nas universidades,
quase sempre públicas -nos
EUA, quase 80% deles trabalham na iniciativa privada.
Existem exceções, como a
pesquisa tecnológica no setor aeronáutico e no campo
(o cultivo de soja e a produção de etanol, por exemplo),
mas, em geral, as empresas
brasileiras investem relativamente pouco em inovação.
"A falta de ousadia da
maioria das indústrias brasileiras pode ser fruto de décadas de funcionamento em
um mercado fechado e em
meio a uma economia pouco
confiável", escrevem a quatro mãos Carlos Henrique de
Brito Cruz, diretor científico
da Fapesp, e Hernan Chaimovich, professor da USP.
Além disso, as empresas
do país reclamam da falta de
trabalhadores qualificados,
especialmente em áreas ligadas à engenharia.
Isso acontece porque o
país começou a investir tarde
em formação avançada.
Com universidades muito
jovens (a Unicamp, por
exemplo, tem menos de 50
anos), o Brasil pode gastar
até mais do que países europeus (com universidades
mais velhas que o Brasil),
mas vai precisar esperar alguns anos ainda até ter uma
massa crítica de cientistas.
O consolo é que, entre a os
países em desenvolvimento,
o Brasil vai bem.
O resto da América Latina
está cientificamente estagnado. Na África, alguns países
até crescem rapidamente, como Angola e Nigéria, mas
partindo de atividades pobres em pesquisa, como a
mera extração de petróleo
com técnicas consagradas.
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