São Paulo, Sexta-feira, 10 de Dezembro de 1999


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CIÊNCIA
Cientistas desenvolvem córneas artificiais

MARCELO VALLETTA
da Reportagem Local

Estruturas que funcionam de maneira semelhante a córneas humanas, feitas com células de pessoas mortas, foram desenvolvidas em laboratório pela primeira vez. No futuro, há a possibilidade de que elas venham a ser usadas em transplantes.
Depois de cinco anos de pesquisa, cientistas canadenses e norte-americanos desenvolveram essas córneas artificiais. Elas podem ser usadas em testes de toxicidade, geralmente feitos com coelhos, de produtos químicos e remédios.
"Essas estruturas que criamos se parecem e funcionam como córneas humanas verdadeiras", disse à Folha a chefe do estudo, May Griffith, biologista celular do Instituto dos Olhos da Universidade de Ottawa, no Canadá.
Córneas são as camadas mais externas dos olhos. São tecidos transparentes e resistentes, feitos de material semelhante ao de unhas e chifres -daí o nome. Elas protegem a íris e a pupila e ajudam na focalização de imagens na retina.
Qualquer arranhão ou perda de transparência na córnea prejudica a visão. Nesses casos, a única alternativa é o transplante.
Entretanto, a popularização de cirurgias a laser para os olhos, que causam alterações nessas estruturas e as inviabilizam para um posterior transplante, e o aumento da procura pelo órgão têm diminuído os estoques para cirurgias.
O estudo, publicado na edição de hoje da revista "Science", pode ser um caminho para o uso de córneas artificiais em transplantes temporários ou permanentes.
"Elas ainda não estão prontas para transplantes", disse Griffith. Os cientistas não sabem se essas estruturas seriam rejeitadas pelo corpo. "Esperamos que elas sejam biocompatíveis, já que são baseadas em materiais naturais."

Novos estudos
Para assegurar se essas estruturas poderão substituir córneas naturais algum dia, pesquisas extensivas são necessárias.
Os cientistas precisam aumentar a resistência da camada intermediária, chamada estroma, dessas córneas artificiais. Basicamente, essa camada foi construída com colágeno, que serviu de suporte para as células de córneas que foram inseridas depois.
Esse "recheio" foi coberto por mais duas camadas, o epitélio e o endotélio, feitos também de células humanas. "Essencialmente, nós construímos a córnea camada por camada", explicou a pesquisadora.
As células usadas para construir as córneas tiveram sua vida útil expandida pelos cientistas. Elas foram infectadas por vírus portadores de genes que aumentaram a replicação celular.
Um dos motivos para o experimento de Griffith e sua equipe foi a falta de córneas em bom estado para estudos. "Todas as nossas córneas em boas condições são usadas em transplantes", disse. "Só conseguimos córneas muito ocasionalmente, quando não há demanda suficiente para que os órgãos sejam transplantados."


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