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CIÊNCIA
Cientistas desenvolvem córneas artificiais
MARCELO VALLETTA
da Reportagem Local
Estruturas que funcionam de
maneira semelhante a córneas
humanas, feitas com células de
pessoas mortas, foram desenvolvidas em laboratório pela primeira vez. No futuro, há a possibilidade de que elas venham a ser usadas em transplantes.
Depois de cinco anos de pesquisa, cientistas canadenses e norte-americanos desenvolveram essas
córneas artificiais. Elas podem ser
usadas em testes de toxicidade,
geralmente feitos com coelhos, de
produtos químicos e remédios.
"Essas estruturas que criamos
se parecem e funcionam como
córneas humanas verdadeiras",
disse à Folha a chefe do estudo,
May Griffith, biologista celular do
Instituto dos Olhos da Universidade de Ottawa, no Canadá.
Córneas são as camadas mais
externas dos olhos. São tecidos
transparentes e resistentes, feitos
de material semelhante ao de
unhas e chifres -daí o nome.
Elas protegem a íris e a pupila e
ajudam na focalização de imagens na retina.
Qualquer arranhão ou perda de
transparência na córnea prejudica a visão. Nesses casos, a única
alternativa é o transplante.
Entretanto, a popularização de
cirurgias a laser para os olhos, que
causam alterações nessas estruturas e as inviabilizam para um posterior transplante, e o aumento da
procura pelo órgão têm diminuído os estoques para cirurgias.
O estudo, publicado na edição
de hoje da revista "Science", pode
ser um caminho para o uso de
córneas artificiais em transplantes temporários ou permanentes.
"Elas ainda não estão prontas
para transplantes", disse Griffith.
Os cientistas não sabem se essas
estruturas seriam rejeitadas pelo
corpo. "Esperamos que elas sejam
biocompatíveis, já que são baseadas em materiais naturais."
Novos estudos
Para assegurar se essas estruturas poderão substituir córneas
naturais algum dia, pesquisas extensivas são necessárias.
Os cientistas precisam aumentar a resistência da camada intermediária, chamada estroma, dessas córneas artificiais. Basicamente, essa camada foi construída
com colágeno, que serviu de suporte para as células de córneas
que foram inseridas depois.
Esse "recheio" foi coberto por
mais duas camadas, o epitélio e o
endotélio, feitos também de células humanas. "Essencialmente,
nós construímos a córnea camada por camada", explicou a pesquisadora.
As células usadas para construir
as córneas tiveram sua vida útil
expandida pelos cientistas. Elas
foram infectadas por vírus portadores de genes que aumentaram a
replicação celular.
Um dos motivos para o experimento de Griffith e sua equipe foi
a falta de córneas em bom estado
para estudos. "Todas as nossas
córneas em boas condições são
usadas em transplantes", disse.
"Só conseguimos córneas muito
ocasionalmente, quando não há
demanda suficiente para que os
órgãos sejam transplantados."
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