UOL


São Paulo, sexta-feira, 11 de abril de 2003

Próximo Texto | Índice

BIOTECNOLOGIA

Experimento com macacos mostra que fazer "cópia" de humanos deve ser mais complicado do que se pensa

Primata clonado tem aberração genética

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Severino Antinori, Panayiotis Zavos e Räel que se cuidem. Um novo estudo conduzido por cientistas americanos mostra que embriões de macacos resos criados por clonagem têm aberrações cromossômicas graves, o que invariavelmente os leva à morte.
Os resultados corroboram o consenso científico de que fazer clones humanos continua sendo bem mais difícil do que propagar histórias fantasiosas sobre extraterrestres ou anunciar sem provar o nascimento de bebês-cópias.
O objetivo da equipe da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, não era fazer experimentos para refutar os pseudocientistas que têm anunciado a fabricação de clones. Eles queriam de fato produzir clones de macacos.
"Achamos que clonar macacos é importante por duas grandes razões", diz Calvin Simerly, primeiro autor do estudo, que está publicado hoje na revista americana "Science" (www.sciencemag.org): "Validar o potencial de pesquisas com células-tronco e produzir animais geneticamente idênticos para o propósito de investigar curas para doenças humanas, como Parkinson, diabetes juvenil, derrames etc.".
Não foi por falta de insistência que fracassaram. No total, os cientistas gastaram 716 oócitos (células que, quando maduras, se tornam óvulos) de resos. Após extrair o núcleo de cada um, fundiram-no com outra célula, do macaco que pretendiam clonar.
Obtiveram alguns embriões que pareciam superficialmente normais. Chegaram a implantar 33 deles, distribuídos por 16 barrigas de aluguel, mas nenhuma das macacas ficou grávida. Foram investigar o que deu errado e constataram que um processo crucial nas divisões celulares necessárias à evolução dos embriões estava falhando e minando seus esforços.

Repartição de cromossomos
Quando uma célula vai se dividir, precisa duplicar e repartir seus pares de cromossomos -cada célula do corpo, à exceção das reprodutivas (como espermatozóide e óvulo), tem pares deles. Uma cópia de cada é arrastada para cada lado da célula por "microcordas", chamadas de fusos.
Para que o procedimento funcione, é preciso que os cromossomos se alinhem com precisão e que os fusos também se posicionem corretamente. Essa ação está intimamente ligada a uma proteína chamada NuMA, que, nos clones, parece não ser produzida.
O resultado é uma divisão cromossômica aberrante, espalhando pedaços do material genético por todos os lados e inviabilizando a criação de um embrião saudável. "Antecipamos que os mesmos problemas que descrevemos em macacos também existam em células humanas", diz Simerly.
"Permanecemos muito céticos acerca de qualquer um que diga ter produzido nascimento de bebês vivos e saudáveis."
A empresa Clonaid, ligada ao líder religioso Claude Vorilhon, também conhecido como Räel, já anunciou o nascimento de três supostos clones humanos. Não provou. O médico cipriota-americano Panayiotis Zavos diz que tem um embrião clonado saudável com dez células, congelado (publicou um artigo vago sobre isso). O ginecologista italiano Severino Antinori já disse ter conhecimento de vários clones em gestação, mas não mostrou nenhum.

Veto europeu
O Parlamento europeu aprovou ontem legislação que impede a realização de pesquisas com células-tronco embrionárias. Para que a lei entre em vigor, os governos dos países-membros ainda precisam ratificá-la.


Próximo Texto: Panorâmica - Evento Folha: Físico da Unesp fala hoje sobre as partículas
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.