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BIOTECNOLOGIA
Experimento com macacos mostra que fazer "cópia" de humanos deve ser mais complicado do que se pensa
Primata clonado tem aberração genética
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Severino Antinori, Panayiotis
Zavos e Räel que se cuidem. Um
novo estudo conduzido por cientistas americanos mostra que embriões de macacos resos criados
por clonagem têm aberrações
cromossômicas graves, o que invariavelmente os leva à morte.
Os resultados corroboram o
consenso científico de que fazer
clones humanos continua sendo
bem mais difícil do que propagar
histórias fantasiosas sobre extraterrestres ou anunciar sem provar
o nascimento de bebês-cópias.
O objetivo da equipe da Escola
de Medicina da Universidade de
Pittsburgh, nos Estados Unidos,
não era fazer experimentos para
refutar os pseudocientistas que
têm anunciado a fabricação de
clones. Eles queriam de fato produzir clones de macacos.
"Achamos que clonar macacos
é importante por duas grandes razões", diz Calvin Simerly, primeiro autor do estudo, que está publicado hoje na revista americana
"Science" (www.sciencemag.org): "Validar o potencial de pesquisas com células-tronco e produzir animais geneticamente
idênticos para o propósito de investigar curas para doenças humanas, como Parkinson, diabetes
juvenil, derrames etc.".
Não foi por falta de insistência
que fracassaram. No total, os
cientistas gastaram 716 oócitos
(células que, quando maduras, se
tornam óvulos) de resos. Após extrair o núcleo de cada um, fundiram-no com outra célula, do macaco que pretendiam clonar.
Obtiveram alguns embriões que
pareciam superficialmente normais. Chegaram a implantar 33
deles, distribuídos por 16 barrigas
de aluguel, mas nenhuma das macacas ficou grávida. Foram investigar o que deu errado e constataram que um processo crucial nas
divisões celulares necessárias à
evolução dos embriões estava falhando e minando seus esforços.
Repartição de cromossomos
Quando uma célula vai se dividir, precisa duplicar e repartir
seus pares de cromossomos -cada célula do corpo, à exceção das
reprodutivas (como espermatozóide e óvulo), tem pares deles.
Uma cópia de cada é arrastada para cada lado da célula por "microcordas", chamadas de fusos.
Para que o procedimento funcione, é preciso que os cromossomos se alinhem com precisão e
que os fusos também se posicionem corretamente. Essa ação está
intimamente ligada a uma proteína chamada NuMA, que, nos clones, parece não ser produzida.
O resultado é uma divisão cromossômica aberrante, espalhando pedaços do material genético
por todos os lados e inviabilizando a criação de um embrião saudável. "Antecipamos que os mesmos problemas que descrevemos
em macacos também existam em
células humanas", diz Simerly.
"Permanecemos muito céticos
acerca de qualquer um que diga
ter produzido nascimento de bebês vivos e saudáveis."
A empresa Clonaid, ligada ao líder religioso Claude Vorilhon,
também conhecido como Räel, já
anunciou o nascimento de três
supostos clones humanos. Não
provou. O médico cipriota-americano Panayiotis Zavos diz que
tem um embrião clonado saudável com dez células, congelado
(publicou um artigo vago sobre
isso). O ginecologista italiano Severino Antinori já disse ter conhecimento de vários clones em gestação, mas não mostrou nenhum.
Veto europeu
O Parlamento europeu aprovou
ontem legislação que impede a
realização de pesquisas com células-tronco embrionárias. Para
que a lei entre em vigor, os governos dos países-membros ainda
precisam ratificá-la.
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