São Paulo, domingo, 11 de abril de 2010

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Grupo vê 6 benefícios contra 17 riscos de técnica mais polêmica

DA REDAÇÃO

O alerta mais recente para os perigos da geoengenharia foi dado há menos de um mês, num estudo publicado no periódico da Academia Nacional de Ciências dos EUA. O trabalhou mostrou que lançar ferro no oceano para estimular algas que sequestram CO2 do ar pode trazer no pacote a proliferação de algas que produzem uma toxina fatal para seres marinhos.
O episódio expõe o grande paradoxo da geoengenharia: só é possível saber se ela funciona testando-a em campo em grande escala. O problema é que os efeitos colaterais potencialmente desastrosos só aparecem durante os testes, quando não se pode mais evitá-los.
A técnica de engenharia do clima mais discutida hoje, e mais eivada de efeitos colaterais, é a chamada ampliação de albedo da Terra por injeção de sulfatos na estratosfera.
Ela consiste em simular o efeito de erupções vulcânicas, que lançam milhões de toneladas de aerossóis de enxofre no ar. Essas partículas, na alta atmosfera, bloqueiam radiação solar. O resultado é um resfriamento, que pode ser considerável: a erupção do monte Pinatubo, em 1991, esfriou o planeta em 0,5C por um ano.
Um estudo publicado no ano passado no periódico "Geophysical Research Letters" por Alan Robock e colegas da Universidade Rutgers, nos EUA, estimou que o equivalente a uma erupção do Pinatubo a cada 4 ou 8 anos seria necessária para frear o aquecimento global. Isso significaria lançar de 2 milhões a 5 milhões de toneladas de enxofre por ano no ar, a um custo estimado de algumas dezenas de bilhões de dólares -uma opção cara, mas bem mais barata que o corte de emissões de CO2.
O problema, diz Robock, é que ninguém sabe se a tecnologia vai funcionar. "Você não pode fazer um teste sem que esteja de fato implementando geoengenharia. Espero que isso nunca seja necessário."

Morrendo da cura
Ele tem boas razões para isso. Em seu estudo, o grupo do americano listou seis benefícios e 17 riscos teóricos da técnica. O mais gritante deles é que os aerossóis interferem nas monções. A injeção permanente de sulfatos no ar poderia, portanto, provocar secas na Ásia e na África -justamente um dos efeitos mais temidos das mudanças climáticas.
Michael McCracken diz que uma forma de minimizar efeitos colaterais seria aplicar a técnica só para resolver problemas regionais. Por exemplo, lançar aerossóis de enxofre no céu do Ártico na primavera para conter o degelo no verão.
Para Robock, mesmo que a geoengenharia estratosférica dê certo, ao "mascarar" o aumento da temperatura pela queima de combustíveis fósseis ela traz um risco moral: fazer a humanidade desistir de cortar emissões de carbono. Caso a simulação vulcânica precisasse ser interrompida, o planeta se veria mergulhado num grau de aquecimento catastrófico. Além disso, o céu do planeta nunca mais seria azul, devido à "poeira" permanente no ar.
Paul Crutzen, ganhador do Nobel de Química, reconhece esse risco num estudo de 2006. Mas contemporiza: "O pôr do sol ficaria colorido". (CA)


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