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CÉREBRO
Raciocínio matemático requer representação espacial, dizem psicólogos
Segredo de gênio é visualizar número
REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O segredo do raciocínio matemático -e, por tabela, do sucesso
dos grandes gênios da ciência-
pode estar na capacidade de pensar nos números como entidades
no espaço. É o que sugerem psicólogos italianos, num estudo que
mostra que pessoas com problemas de raciocínio espacial erram
muito ao pensar numericamente.
A pesquisa, publicada quinta-feira na revista científica "Nature"
(www.nature.com), estudou pessoas com negligência espacial
unilateral -problema causado
por lesões no lado direito do cérebro, na região conhecida como lobo parietal. Quem sofre desse
problema tem dificuldade para
montar imagens mentais e dizer
qual é o meio de uma linha reta.
Marco Zorzi e seus colegas da
Universidade de Pádua queriam
descobrir se esse problema tinha
reflexos no raciocínio matemático. Por isso, em vez de pedir aos
pacientes com o problema que indicassem o meio de uma linha,
instavam-nos a apontar o ponto
médio de uma série numérica ímpar -por exemplo, o número do
meio entre 1 e 5, ou entre 11 e 17.
Nos testes, quatro pacientes
com negligência espacial foram
comparados com outros quatro
que tinham outro tipo de lesão no
lado direito do cérebro e com o
mesmo número de pessoas sadias. Todos se saíram muito bem
em testes que envolviam somar,
subtrair, multiplicar e dividir.
O mesmo, contudo, não aconteceu na hora de marcar o tal "ponto médio" numérico: em mais de
30% das vezes, os quatro pacientes com a lesão erraram na hora
de marcá-lo, quase sempre para a
"direita" -ou seja, se o ponto
médio era 5, eles marcavam 6.
Isso só mudava quando a série
numérica era muito pequena, como de 1 a 3. Nesse caso, o desvio
era para a "esquerda". Quem tinha uma lesão diferente no lado
direito do cérebro continuava
com essa capacidade intacta.
O estudo, para Zorzi, demonstra a maneira como a mente humana organiza os números de
forma espacial e revela que essa
organização acontece, provavelmente, da esquerda para a direita
-esse último fato parece estar
presente em outros primatas.
Zorzi sugere que esse talento tenha feito os grandes gênios científicos. "Muitos grandes matemáticos disseram pensar nos números
em termos especiais. O próprio
Einstein dizia que as palavras não
tinham nenhum papel na sua
mente, mas que ele fazia um jogo
associativo entre imagens", diz.
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