São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CÉREBRO

Raciocínio matemático requer representação espacial, dizem psicólogos

Segredo de gênio é visualizar número

REINALDO JOSÉ LOPES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O segredo do raciocínio matemático -e, por tabela, do sucesso dos grandes gênios da ciência- pode estar na capacidade de pensar nos números como entidades no espaço. É o que sugerem psicólogos italianos, num estudo que mostra que pessoas com problemas de raciocínio espacial erram muito ao pensar numericamente.
A pesquisa, publicada quinta-feira na revista científica "Nature" (www.nature.com), estudou pessoas com negligência espacial unilateral -problema causado por lesões no lado direito do cérebro, na região conhecida como lobo parietal. Quem sofre desse problema tem dificuldade para montar imagens mentais e dizer qual é o meio de uma linha reta.
Marco Zorzi e seus colegas da Universidade de Pádua queriam descobrir se esse problema tinha reflexos no raciocínio matemático. Por isso, em vez de pedir aos pacientes com o problema que indicassem o meio de uma linha, instavam-nos a apontar o ponto médio de uma série numérica ímpar -por exemplo, o número do meio entre 1 e 5, ou entre 11 e 17.
Nos testes, quatro pacientes com negligência espacial foram comparados com outros quatro que tinham outro tipo de lesão no lado direito do cérebro e com o mesmo número de pessoas sadias. Todos se saíram muito bem em testes que envolviam somar, subtrair, multiplicar e dividir.
O mesmo, contudo, não aconteceu na hora de marcar o tal "ponto médio" numérico: em mais de 30% das vezes, os quatro pacientes com a lesão erraram na hora de marcá-lo, quase sempre para a "direita" -ou seja, se o ponto médio era 5, eles marcavam 6.
Isso só mudava quando a série numérica era muito pequena, como de 1 a 3. Nesse caso, o desvio era para a "esquerda". Quem tinha uma lesão diferente no lado direito do cérebro continuava com essa capacidade intacta.
O estudo, para Zorzi, demonstra a maneira como a mente humana organiza os números de forma espacial e revela que essa organização acontece, provavelmente, da esquerda para a direita -esse último fato parece estar presente em outros primatas.
Zorzi sugere que esse talento tenha feito os grandes gênios científicos. "Muitos grandes matemáticos disseram pensar nos números em termos especiais. O próprio Einstein dizia que as palavras não tinham nenhum papel na sua mente, mas que ele fazia um jogo associativo entre imagens", diz.



Texto Anterior: Rio realizará encontro de astrônomos
Próximo Texto: Panorâmica - Medicina: Família dos EUA recebe implante de chips contendo alerta sobre situação médica
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.