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AMBIENTE
Físico da USP estuda velhas queimadas com cinza coletada na cordilheira
Andes revelam incêndio amazônico
CLAUDIO ANGELO
ENVIADO ESPECIAL A MANAUS
A chave para entender as queimadas da Amazônia no passado
pode estar num local no mínimo
inusitado: a fria cordilheira dos
Andes. Estudando a composição
do gelo numa montanha da Bolívia, um pesquisador brasileiro
conseguiu detectar traços de partículas que provavelmente foram
produzidas pelo fogo na floresta,
a mais de mil quilômetros dali.
A montanha em questão é o nevado Illimani (6.350 metros), na
região central da cordilheira, perto da cidade de La Paz.
Após passar um ano e meio
analisando uma coluna de 50 metros de gelo retirada do Illimani, o
físico Alexandre Correia, da USP,
descobriu que alguns aerossóis
presentes ali foram depositados
por nuvens de fumaça proveniente de queimadas. E mais: a partir
dos anos 70, período em que o
desmatamento se intensificou na
região amazônica, a concentração
desses aerossóis aumentou.
O gelo andino pode ser uma boa
ferramenta para a compreensão
das queimadas, porque os dados
brasileiros só existem em série a
partir do fim dos anos 80. Correia
obteve no testemunho de gelo um
registro que vai de 1919 até 1999.
Claro, não sem sofrimento. "Eu
precisei cortar a coluna de 50 metros em fatias de seis centímetros.
No total, analisei 744 amostras,
tudo isso num laboratório a
-15C", afirmou.
O trabalho gelado de Correia,
feito durante seu doutorado e
apresentado durante a 2ª Conferência Científica do LBA (Experimento em Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia),
encerrada ontem em Manaus, teve como objetivo mostrar o transporte de nutrientes da floresta para os Andes e o progressivo empobrecimento dos solos amazônicos por conta das queimadas.
Fumaça virou neve
Quando a floresta queima, os
aerossóis que ela produz são dispersados pela fumaça rumo ao
oceano Pacífico. Assim como cada hectare da Amazônia recebe
até 50 quilos de partículas do deserto do Saara por ano, elementos
como potássio, cálcio e fósforo
-gerados pelas queimadas-
vão se depositar em forma de neve nas montanhas bolivianas.
Com a ajuda de um aparelho
chamado espectrômetro de massa, Correia analisou a assinatura
química de 35 aerossóis no testemunho de gelo. Alguns desses elementos, como o alumínio, estão
presentes em altas concentrações
no solo dos Andes. Como a razão
entre o alumínio e os outros elementos é conhecida, foi possível
isolar, no estudo, o que era produto local do que vinha de fora.
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