São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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Para cientistas, acordo pode gerar lucro

DE SÃO PAULO

Os cientistas brasileiros defendem que o que está em jogo não é apenas a colaboração mais estreita em um dos maiores empreendimentos científicos da história.
De fato, os experimentos com colisões altamente energéticas de partículas subatômicas no LHC (erroneamente apelidado de "máquina do Big Bang") provavelmente mudarão a visão sobre como o Universo funciona. Os físicos do LHC estão à caça do bóson de Higgs, partícula prevista por teóricos, mas nunca detectada, que seria responsável por dar massa (o popular "peso") à matéria.
Mas, além do desafio intelectual, há também a oportunidade para que empresas brasileiras disputem as licitações do Cern (cujo orçamento anual de 664 milhões de euros não é nada desprezível) e ganhem conhecimento valioso com isso.
Mais do que o valor de contratos individuais, produzir aparato para o Cern equivale à transferência de tecnologia de ponta, única no mundo, e pode ajudar qualquer companhia a criar produtos inovadores e lucrativos, diz Ronald Cintra Shellard, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio.
"Vi recentemente uma análise dizendo que Portugal só foi afetado de maneira relativamente leve pela crise econômica porque criou uma indústria eletrônica sofisticada, graças em grande parte à participação no Cern", diz. "As consequências econômicas são bastante palpáveis."
O caminho para transformar o Cern num motor de desenvolvimento, lembra José Monserrat Filho, do MCT, não passa pelas licitações de obras em si, porque, no fim das contas, cada país acaba conseguindo valores equivalentes aos que contribuiu para o projeto. O importante é o clima de inovação e abertura fomentado pela instituição.
"As pessoas estão até cansadas de ouvir isso, mas o 'www" da internet nasceu no Cern. E, por causa da cultura aberta, essa molecada que está ganhando dinheiro por aí hoje com a internet conseguiu adaptar para usos lucrativos a criação do Cern."
Mais um benefício imaterial? Inspirar. O Brasil já levou algumas dezenas de professores de escolas públicas de ensino médio para conhecer o Cern, e a expectativa é ampliar essa batelada para centenas. "Esses professores podem mudar a perspectiva dos alunos deles sobre a ciência."
(RJL)


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