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Para cientistas, acordo pode gerar lucro
DE SÃO PAULO
Os cientistas brasileiros
defendem que o que está em
jogo não é apenas a colaboração mais estreita em um dos
maiores empreendimentos
científicos da história.
De fato, os experimentos
com colisões altamente energéticas de partículas subatômicas no LHC (erroneamente
apelidado de "máquina do
Big Bang") provavelmente
mudarão a visão sobre como
o Universo funciona. Os físicos do LHC estão à caça do
bóson de Higgs, partícula
prevista por teóricos, mas
nunca detectada, que seria
responsável por dar massa (o
popular "peso") à matéria.
Mas, além do desafio intelectual, há também a oportunidade para que empresas
brasileiras disputem as licitações do Cern (cujo orçamento anual de 664 milhões de
euros não é nada desprezível) e ganhem conhecimento
valioso com isso.
Mais do que o valor de contratos individuais, produzir
aparato para o Cern equivale
à transferência de tecnologia
de ponta, única no mundo, e
pode ajudar qualquer companhia a criar produtos inovadores e lucrativos, diz Ronald Cintra Shellard, pesquisador do Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas, no Rio.
"Vi recentemente uma
análise dizendo que Portugal
só foi afetado de maneira relativamente leve pela crise
econômica porque criou uma
indústria eletrônica sofisticada, graças em grande parte à
participação no Cern", diz.
"As consequências econômicas são bastante palpáveis."
O caminho para transformar o Cern num motor de desenvolvimento, lembra José
Monserrat Filho, do MCT,
não passa pelas licitações de
obras em si, porque, no fim
das contas, cada país acaba
conseguindo valores equivalentes aos que contribuiu para o projeto. O importante é o
clima de inovação e abertura
fomentado pela instituição.
"As pessoas estão até cansadas de ouvir isso, mas o
'www" da internet nasceu no
Cern. E, por causa da cultura
aberta, essa molecada que
está ganhando dinheiro por
aí hoje com a internet conseguiu adaptar para usos lucrativos a criação do Cern."
Mais um benefício imaterial? Inspirar. O Brasil já levou algumas dezenas de professores de escolas públicas
de ensino médio para conhecer o Cern, e a expectativa é
ampliar essa batelada para
centenas. "Esses professores
podem mudar a perspectiva
dos alunos deles sobre a
ciência."
(RJL)
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