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CIÊNCIA
Técnica identifica na economia francesa do século 18 moedas
produzidas no Brasil
Ouro brasileiro
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris
O ouro do Brasil é quase uma
síntese da exploração colonial
mercantilista: produto de exportação da colônia -Brasil-, fonte
quase inesgotável de riquezas para a metrópole -Portugal.
Onde foi parar o ouro do Brasil?
A pergunta, que motivou os inconfidentes mineiros, ainda intriga os historiadores. As respostas,
em geral vindas de análises de balanços de comércio exterior, indicam que a Inglaterra foi a grande
beneficiária do ouro brasileiro.
Três pesquisadores franceses
recorreram à física nuclear para
comprovar a
teoria de que o
ouro de Minas
Gerais também foi fundamental para o
desenvolvimento francês
no século 18.
Concluíram
que, em 1786,
quando houve
a última grande fundição de
moedas do período analisado, o ouro brasileiro compunha 30% das
peças. E o da
Colômbia, 8%.
De 1700 a 1780, Portugal teve
um déficit comercial com a França de cerca de 218 milhões de libras turnois, a moeda francesa da
época, segundo os balanços de comércio exterior. A partir da análise do ouro, o grupo obteve um
número próximo: teriam chegado ao país 212 milhões de libras
turnois em ouro brasileiro -o
equivalente a 86 toneladas de ouro. Na época, a França exportava
quase o mesmo que a Inglaterra:
tecidos de linho e lã, papéis (e livros) e produtos feitos de ferro
-de arados a panelas.
"Com a medição do ouro do
Brasil, pudemos quantificar com
precisão o fluxo do comércio
francês", disse à Folha Christian
Morrisson, um dos autores do
trabalho. A França foi o segundo
maior parceiro comercial de Portugal, atrás da Inglaterra. No período, porém, o comércio entre
França e Portugal teve crescimento relativo maior que o entre Inglaterra e Portugal.
No século 18, só os metais preciosos (ouro e prata) exerciam o
papel de mercadoria com valor de
troca. Nem o governo real nem o
sistema bancário incipiente tinham credibilidade suficiente para emitir moeda (fiduciária ou escritural) que fosse aceita pela população. Alguns comerciantes
trocavam letras de câmbio, mas
em circuitos muito fechados.
Para definir com precisão a origem do ouro, Morrisson, do Centro de Estudos do Desenvolvimento da Universidade Paris 1, e
Cécile Morrisson, da Biblioteca
Nacional, se uniram ao físico
Jean-Noël Barrandon, diretor do
centro Ernest-Babelon, em Orléans, onde está o ciclotron (acelerador de partículas) usado no estudo.
Nas 127 moedas cunhadas
na França analisadas, o ouro
está em maior
proporção.
Prata e cobre
ajudam a formar a liga.
Os três juntos compõem
mais de 99%
do conteúdo
das peças. Mas
são os outros
elementos químicos, em
quantidade extremamente
reduzida, contados em partes por milhão, que permitem
analisar a origem do ouro.
No ouro extraído de Minas Gerais, há o que os pesquisadores
chamam de elemento-traço ou
marcador -em geral um metal
ou semi-metal, associado ao ouro,
que é encontrado em quantidades
específicas apenas naquela região.
No caso do Brasil, o elemento-traço é o paládio (Pd). No ouro de
Minas Gerais, o paládio costuma
ser encontrado em quantidades
muito superiores às do ouro de
outras minas.
No período pesquisado, o principal "concorrente" do ouro brasileiro foi o ouro da Colômbia, explorado pelos espanhóis. Esse ouro tem também seu marcador,
que é a platina.
Mas nem sempre isso acontece.
O ouro que os espanhóis encontraram no México não tem elemento associado que o marque.
Como um átomo de ouro é sempre igual a um átomo de ouro, independente do local do em que
seja encontrado, não é possível
identificar quanto ouro mexicano
há nas moedas européias.
A OBRA
Or du Brésil, monnaie et
croissance en France au
18eme siècle - Christian Morrisson, Cécile Morrison e Jean-Noël
Barrandon. CNRS Editions. 171
francos (cerca de US$ 28,50).
Onde encomendar - em São
Paulo, na Livraria Francesa (r. Barão de Itapetininga, 275, fundos,
tel. 011/231-4555).
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