São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2010

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Bióloga transexual ataca tese de Darwin

Em primeira visita ao Brasil, Joan Roughgarden, da Universidade Stanford, criticou a teoria da seleção sexual

Para cientista, que fez operação de mudança de sexo em 1998, existe gradação entre machos e fêmeas na natureza

Daniel Deak/Divulgação
Bióloga Joan Roughgarden fala durante evento em Manaus

GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS

Em sua primeira visita ao Brasil, a bióloga americana Joan Roughgarden, 64, professora da Universidade Stanford e referência em estudos sobre homossexualidade no mundo animal, atacou a teoria de seleção sexual de Charles Darwin.
Para a cientista, que em 1998 fez uma cirurgia de mudança de sexo e deixou de se chamar Jonathan para virar Joan, Darwin estava "profundamente equivocado" ao descrever padrões rígidos de distinção entre os sexos.
O conceito de seleção sexual é um dos componentes da teoria da evolução.
Darwin diz que as fêmeas, por gastarem mais tempo e energia com a criação da prole, tendem a ser mais recatadas, escolhendo os parceiros rigidamente, muitas vezes com base em características físicas exageradas -as caudas dos pavões ou os chifres dos veados, por exemplo.
Tais traços serviriam, para as fêmeas, como indicador de qualidade genética, enquanto os machos tenderiam a ser mais promíscuos.
Roughgarden se opõe a isso e afirma que não há um padrão rígido de comportamento para machos e fêmeas. Haveria, na realidade, várias gradações entre o feminino e o masculino.
Ela cita várias pesquisas indicando que, na natureza, nem mesmo a relação entre macho e fêmea pode ser considerada padrão.
"Há mais de 300 espécies de vertebrados com registro de homossexualidade. Um terço dos peixes de recifes de coral pode trocar de sexo durante a vida. A seleção sexual não explica isso", diz.
No lugar do conceito de Darwin, Roughgarden propõe a teoria de "seleção social". Além de compreender as várias gradações entre os gêneros, a teoria afirma que, na natureza, é comum haver sexo sem fins reprodutivos.
Como exemplo, ela cita os bonobos, primatas africanos que usam sexo como forma de integração e interação social, além de outros bichos.
Lançado há um ano, seu último livro, "The Genial Gene", aprofunda as críticas. Um dos principais alvos é o zoólogo Richard Dawkins, ex-professor da Universidade de Oxford e defensor da visão darwinista clássica. Para a bióloga, Dawkins e outros dão peso excessivo à competição no processo evolutivo.
Ela acusa as universidades britânicas de ignorar qualquer indício de erros na teoria da seleção sexual.
"Charles Darwin é um herói nacional. Por isso, admitir que existe uma falha no seu raciocínio tem um significado enorme. É como se estivessem desmoralizando a nação", afirmou.


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