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Anúncio envolve disputa entre cientistas e empresa
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Não funcionou a tentativa de
criar uma imagem de união entre
os dois grupos envolvidos no sequenciamento do genoma humano. Continua a troca de acusações
entre o PGH (Projeto Genoma
Humano), consórcio público internacional de cientistas, e a Celera Genomics, uma empresa de
biotecnologia que espera obter
muitos lucros com a informação
genética e que utilizou uma tecnologia controversa para acelerar o
sequenciamento.
"Ao contrário do que foi anunciado em junho, os resultados da
Celera não estão corretos. Isso está agitando a comunidade científica", afirma Eric Lander, chefe do
laboratório de genômica do MIT
(Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos Estados Unidos.
Já para Craig Venter, presidente
da Celera, o método da empresa é
confiável. "Existem algumas pessoas no consórcio público que
não gostariam que existíssemos."
Em junho passado, PGH e Celera apresentaram simultaneamente um rascunho do genoma completo. Segundo Francis Collins,
chefe do Instituto Nacional de
Pesquisa do Genoma Humano,
que estava liderando o esforço
público nos EUA, os resultados da
Celera, na época, eram de boa
qualidade e estimularam o PGH.
Venter criou controvérsia em
1998, quando fundou a Celera para pôr em prática seu método
"shotgun". Ao contrário da técnica utilizada pelo PGH -o mapeamento de cada cromossomo, seguido da leitura letra por letra-,
o método de Venter utiliza o genoma inteiro de uma só vez, acelerando o sequenciamento.
No ano passado, até a Casa
Branca interveio para que os dois
grupos chegassem a um acordo
sobre o rascunho do sequenciamento. No final, concordaram em
fazer um anúncio conjunto. A
guerra parecia terminada.
Agora, com a publicação separada nas revistas científicas
"Science" e "Nature" e um novo
anúncio conjunto em Washington, a rivalidade parece continuar
bem viva (afinal, não saiu a almejada publicação conjunta).
Só para assinantes
Ainda existem diferenças entre
os grupos. Enquanto os dados obtidos pelo PGH eram divulgados
periodicamente pela Internet,
muitos dos da Celera estavam restritos a assinantes.
A "Science", que publica hoje os
dados da Celera, deu copiosas explicações sobre como vai manter
uma cópia da sequência completa
para livre consulta, apesar das restrições comerciais da Celera.
O pesquisador que precisar de
mais de um milhão de bases (letras) do banco da Celera, por semana, terá de enviar uma carta à
revista garantindo que não serão
usados para fins comerciais. Será
cobrada uma taxa para dados utilizados para fins comerciais.
Segundo João Carlos Setubal,
coordenador do Laboratório de
Bioinformática da Unicamp, a decisão da revista não foi bem-vinda
na comunidade científica, porque
compromete um de seus princípios básicos: a livre disponibilidade de resultados de pesquisa.
Qualidade duvidosa
Para Phillip Green, um dos
maiores especialistas mundiais
em bioinformática -ramo da
computação que envolve o estudo
grandes bancos de dados biológicos, como as sequências de
DNA- a qualidade dos dados da
Celera são piores que os do PGH.
Segundo Setubal, que atualmente trabalha em seu laboratório, Green disse que o artigo da
Celera na "Science" tem falsas
afirmações, a começar pelo número de falhas ("buracos" em trechos de DNA que deveriam ser
contínuos) nas sequências obtidas pela empresa.
Para Green, falhou a abordagem
adotada pela Celera de fazer a
montagem da sequência de DNA
usando o método "shotgun".
Colaborou a Reportagem Local
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