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Clima pode comprometer 85% da mata amazônica
Aquecimento global desenfreado mataria de sede uma grande parte da floresta
Número saiu de simulação meteorológica feita por britânicos em computador; desmatamento, que piora o cenário, não foi considerado
GUSTAVO FALEIROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
EM COPENHAGUE
A Amazônia está condenada
a perder no mínimo 20% de sua
fisionomia original com as mudanças climáticas. O impacto
pode ser ainda pior e afetar
85% da floresta se as temperaturas subirem além de 4C,
comparadas com níveis pré-industriais. Este foi o quadro
sombrio apresentado pelo Centro Hadley, instituto de meteorologia do Reino Unido, durante o Congresso Científico Internacional sobre Mudanças
Climáticas, em Copenhague.
O estudo sobre a resistência
de ecossistemas a um nível perigoso de mudança climática
usou cerca de 700 simulações
em computadores para projetar o destino de florestas e geleiras. Esses modelos traçaram
cenários de emissão de gases do
efeito estufa e quais seriam as
consequências. A partir destes
dados, os pesquisadores testaram a sensibilidade da Amazônia ao calor e à seca.
Os resultados, que serão publicados na revista "Nature
Geoscience", são pessimistas.
Até 2100, uma elevação entre
1C e 2C causaria uma "retração" da floresta de 20% a 40%, e
os efeitos serão bem mais severos se as temperaturas romperem esse patamar. A pior hipótese testada é uma alta de 4C,
que reduziria a Amazônia a
apenas 15% do que é hoje.
Segundo Vicky Pope, coordenadora do Hadley, em um planeta mais quente, espécies do
cerrado (uma savana) avançaria rumo ao Norte. "O que descobrimos é que mesmo a mais
modesta elevação de temperatura afetará a floresta severamente", disse Pope à Folha.
Projeções sobre a savanização da Amazônia já vinham
sendo feitas no Brasil pelo Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Um estudo de
2007 alertava que aumentos de
temperatura de "2C a 6C"
aliados a períodos de seca mais
severos transformariam até
18% da maior floresta tropical
do planeta em algo similar ao
cerrado. O novo estudo do Hadley, entretanto, é o primeiro a
mostrar, no longo prazo, a relação entre temperaturas específicas e as taxas de savanização.
Os cientistas ingleses também afirmam que uma recuperação da floresta após tudo isso
não ocorreria em menos de
cem anos. Alguma perda haverá, pois a temperatura global
não está longe de alcançar uma
elevação 1C em relação a níveis do século 19.
Segundo Pope, a melhor
chance de evitar efeitos significativos na Amazônia é limitar a
subida da temperatura a no
máximo 2C. Para tanto, as
emissões de gases-estufa precisariam atingir um pico em 2015
e a partir daí caírem 3% ao ano.
Ainda assim, a probabilidade
de o aquecimento efetivamente se estabilizar é de 50%.
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