São Paulo, sábado, 12 de março de 2011

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Antropólogo tenta entender como índio fica "abrasileirado"

Visão estratégica diferente sobre Amazônia dividiu tribo ao meio no Brasil e na Guiana

DO ENVIADO A WASHINGTON

De um lado do rio, índios completamente abrasileirados, com motocicletas, shorts Adidas e sandálias Havaianas. Do outro, indígenas que ainda falam as suas línguas originais e não chamam ninguém de "cara".
Os dois grupos estão muito próximos: os rios Tacatu e o seu afluente Irengue são atravessáveis a pé, especialmente nas épocas mais secas do ano, e fazem a divisa entre o Brasil e a Guiana.
Entender como uma mera fronteira criada por gente branca conseguiu criar contrastes tão extremos entre índios das mesmas etnias (como a macuxi) é um dos objetivos de pesquisadores da Universidade Stanford.
"Se você vê um índio brasileiro na Guiana, você sabe que ele é brasileiro. Ele gesticula como um brasileiro, fala alto como um brasileiro, anda como um brasileiro. Os índios do outro lado do rio são mais reservados", diz o antropólogo José Fragoso.
Ele mora nos EUA, é português, mas visita o Brasil há 20 anos e morou por seis em Roraima. Sua equipe, que inclui colegas brasileiros, visitou 14 grupos indígenas lá.
Oito deles já perderam totalmente o contato com as suas línguas originais. Os demais, ainda que mantenham algumas tradições, também têm bastante familiaridade com o português. Na Guiana, as línguas e culturas originais foram preservadas.
Quando ficam doentes, os índios da Guiana costumam vir ao Brasil, porque não encontram tratamento no seu país. "Quando eles descobrem que os índios de Roraima falam português, ficam chocados", diz Fragoso.
O grupo está pesquisando, por exemplo, qual dos dois grupos causa menos danos à natureza e qual se alimenta melhor. Resultados devem sair nos próximos anos.
A diferença existe porque a história dos dois países é completamente diferente.
Enquanto no Brasil prevaleceu o "ocupar para não entregar", lema que pautou a política dos militares para a Amazônia, na Guiana isso nunca foi prioridade.
Cerca de 90% dos 700 mil habitantes do país vivem no litoral, longe desses índios da fronteira. Ocupar o interior do país não é o desejo dos jovens guianenses. (RM)


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