São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

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Japoneses criam vacina à base de arroz

Aplicada via oral em camundongos, droga pode ficar mais de um ano e meio fora da geladeira, o que diminui seus custos

Pesquisa feita contra o vibrião do cólera poderá ser estendida para outros tipos de infecção que atingem países do Terceiro Mundo

DA REDAÇÃO

Controlar o cólera por meio de uma vacina que não precisa nem de agulha e nem de seringa já seria bom. Melhor ainda, o medicamento, que foi introduzido em uma planta de arroz transgênica, pode ficar mais de um ano e meio em temperatura ambiente -processo que derruba os custos da produção.
Todas essas características constam de uma vacina oral desenvolvida por um grupo de pesquisa do Japão. Os resultados do estudo científico feito em roedores estão publicados na edição de hoje da revista "PNAS" (www.pnas.org).
Segundo os cientistas autores da pesquisa, a grande vantagem dessa tecnologia é que ela imuniza, em primeiro lugar, as mucosas do corpo. Como a maioria dos micróbios causadores não só do cólera mas da Aids, da gripe e da Sars atacam primeiro a mucosa, conseguir barrar a invasão inicial do patógeno é um grande passo para a imunização efetiva.
"O uso do arroz na engenharia de produção da vacina não significa que se trate de uma vacina comestível", disse Hiroshi Kiyono, autor do estudo e pesquisador da Universidade de Tóquio. Segundo o pesquisador, o produto deve ser encarado como um medicamento e não como um alimento.
Para fazer a vacina, o grupo de Kiyono inseriu no arroz os genes da toxina do vibrião do cólera. As sementes da planta passam a "expressar" a proteína em níveis pequenos -suficientes para "treinar" o sistema imunológico a fazer anticorpos sem causar a doença.
A imunização oral é constituída por uma cápsula que tem pó de arroz dentro. Depois dos primeiros resultados positivos em camundongos, os cientistas do Japão esperam em um futuro próximo começar a testar a vacina em primatas.
A tecnologia de desenvolver vacinas a partir de plantas ainda não está bem dominada, apesar de existirem muitos projetos espalhados pelo mundo tentando fazer isso. Além do arroz usado pelo grupo do Japão, outros laboratórios tentam desenvolver vacinas à base de batata, de tomate, de soja e também de milho. Nenhuma dessas linhas de pesquisa ultrapassou até agora a fase inicial.
O grande obstáculo é evitar o desgaste rápido que pode ocorrer das cápsulas dentro do estômago. Esse processo precisa ser bem equilibrado com a liberação do remédio no corpo.
Várias agências de financiamento, como a Fundação Bill e Melinda Gates, dos Estados Unidos, apostam nas vacinas orais à base de plantas como a saída para que uma imunização em massa possa ocorrer em países do Terceiro Mundo no futuro. Isso por causa do provável custo baixo desse tipo de produção e da alta eficiência em termos de imunização que ela poderá ter.


Com Associated Press


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