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Sorte fez dinos dominarem a Terra, dizem britânicos
Extinção de um grupo rival de vertebrados catapultou a evolução desses répteis
Segundo pesquisador do
Reino Unido, derrocada dos
competidores ocorreu há
228 milhões de anos e pode
ter sido causada pelo clima
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dinossauros dominaram a
Terra por 130 milhões de anos,
mas esse longo reinado começou porque deram sorte -não
porque fossem intrinsecamente superiores aos rivais.
É o que afirma o primeiro estudo detalhado comparando as
características destes animais
vertebrados e de seus rivais
imediatos, os crurotarsos, durante os primeiros 30 milhões
de anos de existência dos dinos.
O estudo está na edição de hoje
do periódico "Science".
Os dinos surgiram no Período Triássico (252 milhões a 208
milhões de anos atrás) e foram
todos extintos no final do Cretáceo (entre 145 milhões e 65
milhões de anos atrás).
A palavra "sorte" pode não
ter um sentido preciso em ciência, mas o novo estudo não conseguiu apontar um motivo específico para o sucesso dos dinos e o fracasso dos crurotarsos, vertebrados quase todos
extintos, mas que são representados hoje por um grupo bem
disseminado, o dos crocodilos.
Em vez de sobreviverem por
serem melhores, os dinos teriam tido a sorte de ver seus rivais extintos por um fenômeno
externo, como uma mudança
climática brusca. Este evento
de extinção teria acontecido
228 milhões de anos atrás.
Consenso
A suposta "superioridade"
dos dinossauros virou uma espécie de consenso entre cientistas -isto é, se eles sobreviveram e seus rivais foram extintos, foi por alguma característica deles, como a postura ereta,
ou por se adaptarem melhor à
umidade ou à seca.
A equipe liderada por Mike
Benton, da Universidade de
Bristol, Reino Unido, lembra
que crurotarsos e dinossauros
conviveram lado a lado, nos
mesmos nichos ecológicos, durante os primeiros 30 milhões
de anos dos dinos, no Triássico.
Havia tanto crurotarsos quadrúpedes quanto bípedes, vorazes carnívoros e pacíficos herbívoros. Os pesquisadores
compararam 437 características dos esqueletos de 64 espécies dos dois grupos.
Eles descobriram que nenhum dos dois estava evoluindo mais rápido que o outro.
E havia mesmo maior abundância de crurotarsos do que de
dinos em vários ecossistemas.
"A evolução não é mecânica.
Muito dela é sorte, e muito
poucos organismos são rigidamente perfeitos no que fazem
-provavelmente, nenhum é.
Por isso nós colocamos de lado
a idéia de que ou os dinossauros
ou os crurotarsos tinham uma
habilidade secreta que faltava
ao outro grupo", disse Benton.
"Os dinossauros não estavam
fazendo nada "melhor" que os
crurotarsos nos 30 milhões de
anos em que conviveram", disse à Folha o principal autor do
estudo, Steve Brusatte, aluno
de Benton e pesquisador do
Museu Americano de História
Natural, de Nova York.
"O final é meio chocante, fala
em sorte. Mas sorte não explica
nada", diz Max Langer, da Faculdade de Filosofia Ciências e
Letras de Ribeirão Preto da
USP, ex-aluno de Benton.
"Até a década de 1980 era
consenso de que os dinossauros foram substituindo os outros porque eram mais adaptados. Benton começou com uma
idéia contrária, de que em vez
de competição, teria havido
uma extinção em massa."
Não há dúvida de que dinos e
crurotarsos conviveram; mas
quanto disso envolvia competição? "Competição é difícil de
observar mesmo em grupos vivendo hoje. No registro fóssil, é
uma busca infrutífera", diz
Langer, para quem apesar do
novo estudo, a questão ainda
não está resolvida.
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