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Bamboleio da Terra causa extinção
Estudo liga as variações da órbita terrestre aos ciclos de desaparecimento de espécies de mamíferos
Dentes fósseis de roedores
da Espanha apontam dois
picos de sumiço de fauna,
que coincidem com cálculos
astronômicos, diz cientista
DA REDAÇÃO
Uma antiga questão intriga
os zoólogos: por que as espécies
de mamífero têm uma vida curta, surgindo e se extinguindo
em intervalos de cerca de 2,5
milhões de anos? Um grupo europeu agora diz ter a resposta:
está tudo escrito nos astros. Em
dois deles, mais especificamente -a Terra e o Sol.
Os pesquisadores, liderados
pelo holandês Jan van Dam, da
Universidade de Utrecht, propõem que variações na órbita
da Terra e na inclinação de seu
eixo estejam por trás dos misteriosos ciclos de extinção de
mamíferos, cujos picos, verificados no registro fóssil, coincidem com cálculos astronômicos para esses eventos. A explicação, afirmam, está em mudanças climáticas extremas
causadas por essas variações,
como invernos mais frios.
Os cientistas já sabem desde
a década de 1920 que a dança da
Terra ao redor do Sol sofre alterações periódicas, e que isso
causa mudanças na quantidade
de radiação solar que chega ao
planeta. Essas alterações são de
três tipos principais: a excentricidade da órbita, a inclinação
do eixo do planeta (veja quadro
à direita) e o bamboleio ou precessão dos equinócios, nome
dado à mudança na direção do
eixo da Terra em relação ao Sol.
Essas mudanças são conhecidas como ciclos de Milankovitch, em homenagem ao geofísico sérvio Milutin Milankovitch (1879-1958), que as calculou pela primeira vez, ligando-as a mudanças climáticas no
passado da Terra.
Os ciclos de Milankovitch, no
entanto, têm intervalos de dezenas ou centenas de milhares
de anos. Mas as extinções de
mamíferos e sua substituição
por novas espécies ocorrem em
intervalos maiores -portanto,
ninguém tinha conseguido usar
a teoria astronômica para explicar de forma convincente o
fenômeno biológico.
No entanto, os próprios ciclos orbitais do planeta também variam de intensidade, na
escala de milhões de anos. E é aí
que eles se ligam às extinções,
afirma Van Dam .
Dentes do ofício
Para relacionar as duas coisas, o grupo liderado pelo holandês recorreu a um verdadeiro baú do tesouro paleontológico: seqüências de sedimentos
em rochas da Espanha que
guardam o registro ininterrupto de 22 milhões de anos de
evolução de roedores, na forma
de 80 mil dentes isolados.
Entre as mais de 130 linhagens identificadas, o grupo mapeou quais viveram em que períodos e quando se extinguiram. Descobriram que, nesse
intervalo, extinções aconteciam em dois ciclos: um a cada
2,4-2,5 milhões de anos e outro
a cada 1,2 milhão de anos.
Em seguida, os cientistas
cruzaram os dados de extinção
com as variações de longo prazo na intensidade dos ciclos.
Descobriram que os picos de
extinção batiam com as variações de órbita e de inclinação
do eixo terrestre, respectivamente. "Os períodos de sucessão de fauna e os astronômicos
eram quase idênticos", disse
Van Dam à Folha. O estudo sai
hoje na revista "Nature"
(www.nature.com).
Viés
Cientistas que não participaram do estudo dizem que a relação pode valer para os roedores espanhóis -pequenos mamíferos são bem mais sensíveis
a mudanças ambientais que, digamos, elefantes e leões- mas
não é, necessariamente, universal. O holandês diz apostar
que sim. "[Roedores] só têm
um registro mais denso, então é
mais fácil mapear seu desaparecimento", afirmou.
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