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Moedas perdidas revelam queda populacional na Roma antiga
Tesouro era enterrado durante guerras, o que dá pista sobre despovoamento
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Estudando a distribuição, ao
longo do tempo, de moedas romanas escondidas durante períodos de conflito interno, dois
pesquisadores nos EUA concluíram que houve um declínio
da população da Itália durante
o século 1º a.C., resolvendo uma
questão há muito debatida.
"Em tempos de violência as
pessoas tendem a esconder
seus objetos de valor, que são
depois recuperados -a menos
que seus donos tenham morrido ou sido expulsos. Assim, a
distribuição temporal de moedas escondidas é uma excelente
pista da intensidade de guerra
interna", escreveram os autores em artigo na revista científica americana "PNAS".
Os dois são de áreas diferentes do conhecimento e, no caso,
complementares. Peter Turchin é do Departamento de
Ecologia e Biologia Evolutiva
da Universidade de Connecticut e Walter Scheidel é do Departamento de Estudos Clássicos da Universidade Stanford.
"Os tesouros escondidos tinham desde três a quatro moedas até algumas dezenas de milhares. Cem denários equivaliam à metade do salário anual
de um soldado", disse Turchin
à Folha. O "denarius" (plural:
"denarii") era uma moeda de
prata com cerca de quatro gramas de peso. A palavra está na
origem da palavra "dinheiro".
Perdendo o censo
Os romanos, tanto no período republicano (do século 5º
a.C ao século 1º a. C.) quanto no
Império que o seguiu, realizavam censos de seus cidadãos,
necessários para fins de taxação, recrutamento militar e direito de voto em assembleias.
Contavam-se apenas os homens adultos. Os números registrados passaram de cerca de
200 mil para perto de 400 mil
entre a metade do século 3º a.C.
e o final do século 2º a.C.
Com a extensão da cidadania
romana ao resto da Itália depois da chamada Guerra Social
(91-89 a.C. ), os números praticamente triplicaram. Três censos feitos pelo imperador Augusto em 28 a.C., 8 a.C. e 14 d.C.
mostram um número de 4 milhões passando para 5 milhões.
Mesmo levando em conta a
extensão da cidadania, os números não batem. Falta explicar como a população de romanos teria aumentado até três
vezes no século anterior ao primeiro censo de Augusto. É que
todo esse período foi marcado
por três grandes guerras civis,
sem falar em conflitos menores, doenças e fome.
A solução de uma corrente de
pesquisadores foi concluir que
os censos de Augusto passaram
a incluir também mulheres e
menores. É a chamada hipótese
de "contagem baixa". Mas as
fontes históricas não fazem
menção a contagens diferentes.
Outra corrente, a da "contagem alta", assume que não houve mudança na identidade das
pessoas recenseadas. Ela se baseia na crença de que os censos
republicanos se tornaram cada
vez mais imprecisos, e portanto
exagerariam a escala de aumento populacional.
O problema é que isso resultaria em uma população total
que iria de 15 milhões a 20 milhões. Seria alta demais para a
época romana, pois só na metade do século 19 é que a Itália
atingiu essa cifra.
O modelo criado pelos dois
pesquisadores, adicionando os
tesouros de moedas como uma
variável ao longo do tempo, demonstrou ser mais compatível
com a "contagem baixa".
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