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Grupo acha 1º fóssil de idoso humano
Quadril e vértebras de 500 mil anos indicam desgaste causado pela idade em macho de espécie pré-neandertal
Indivíduo encontrado
em sítio da Espanha
tinha mais de 45 anos
quando morreu, afirma
pesquisa na "PNAS"
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA
Os ossos do quadril e as
vértebras que você vê na foto
à direita contam uma história
de dor e, provavelmente,
também de compaixão na
Europa pré-histórica. Com
mais de 500 mil anos de idade estimada, são o primeiro
registro claro de velhice entre
ancestrais do homem.
A equipe do paleoantropólogo espanhol Juan-Luis Arsuaga, da Universidade Complutense de Madri, desenterrou os fósseis no sítio de Sima
de los Huesos, perto de Burgos (norte da Espanha).
Trata-se de um local já conhecido por sua riqueza em
restos de hominídeos, como
são conhecidos os membros
da linhagem humana: pelo
menos 28 indivíduos já foram
identificados ali. Mas só agora Arsuaga e companhia se
deram conta da condição especial da pelve em questão.
Em artigo que será publicado na edição on-line da revista científica americana
"PNAS", eles analisam em
detalhes os ossos e estimam
que se tratava de um sujeito
do sexo masculino, com mais
de 45 anos cujo corpo claramente já andava rateando
debaixo do peso da idade.
O sítio de Sima de los Huesos, assim como os demais
na chamada serra de Atapuerca, trazem indícios de
uma ocupação humana tão
antiga que precede até os famosos neandertais, mais tarde senhores da Europa antes
da chegada do homem atual.
PRÉ-NEANDERTAL
Para os especialistas espanhóis, a espécie à qual pertencia o idoso era a Homo heidelbergensis, encontrada
também em outros lugares
do continente, como a Alemanha, e provavelmente ancestral dos neandertais.
Como o próprio nome da
espécie indica, ela pertencia
ao gênero Homo, o mesmo do
moderno Homo sapiens.
Eram criaturas de cérebro
apenas ligeiramente menor
do que o de uma pessoa viva
hoje, de compleição troncuda (calcula-se que o idoso de
Sima de los Huesos, por
exemplo, medisse 1,70 m e
pesasse cerca de 90 kg).
Os pesquisadores tiveram
a sorte de desenterrar, além
da pelve (os ossos do quadril), quase todas as vértebras lombares do sujeito, as
quais correspondem à porção inferior da coluna. Detalhes desses ossos sugerem
uma rotina de dor para o ancião H. heidelbergensis.
Em várias vértebras, há sinais de que os ossos passaram por um remodelamento
de sua forma, resultado do
atrito entre eles conforme o
sujeito caminhava.
Esse choque constante levou à formação de cicatrizes
ósseas, sinal de que houve
tempo para as lesões começarem a sarar. Mesmo assim,
algumas vértebras ficaram
assimétricas, com formato irregular se comparadas com
ossos de pessoas saudáveis.
Em parte, estimam os pesquisadores, o homem devia
seus problemas de coluna a
doenças ósseas congênitas.
Por outro lado, suas dores
parecem ter sido intensificadas por uma vida de longas
caminhadas, provavelmente
carregando com frequência
fardos pesados (um naco de
elefante, por exemplo).
ENCURVADO
E possível imaginar que,
no fim da vida, ele andasse
curvado, com os joelhos permanentemente dobrados,
por exemplo. O único jeito de
alguém assim sobreviver tanto tempo, afirmam os espanhóis, seria ter a ajuda de
companheiros de grupo.
Para os paleoantropólogos, ele estaria incapacitado
para a caça, mas os membros
de sua tribo provavelmente
lhe traziam alimento. Por outro lado, as lesões não seriam
suficientes para impedir que
ele viajasse com o grupo por
distâncias moderadas.
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