São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2011

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ENTREVISTA YING CHENG

China ainda produz pesquisa com baixa relevância científica

CRESCIMENTO DA QUANTIDADE DE ESTUDOS NO PAÍS AINDA NÃO SE REFLETE EM QUALIDADE, DIZ PESQUISADOR QUE FAZ RANKINGS UNIVERSITÁRIOS

Sabine Righetti/Folhapress
O pesquisador chinês Ying Cheng na Eslováquia

SABINE RIGHETTI
ENVIADA A BRATISLAVA

A ciência chinesa passou, nas últimas décadas, por um crescimento explosivo muito parecido com o que ocorreu na economia da China. Contudo, de acordo com Ying Cheng, da Universidade Jiao Tong, em Xangai, boa parte desse avanço é ilusória.
"Produzimos muito, mas nossos indicadores de impacto dessa produção científica não são bons", diz Cheng.
O centro que ele dirige é responsável pela elaboração do "Ranking de Xangai", concorrente do britânico THE (Times Higher Education) entre as listas das principais universidades do mundo.
De acordo com o especialista, a China vai bem nos indicadores de reputação medidos pelas listagens mundiais, mas quase não faz pesquisa em parceria com outros países do mundo. Tudo isso faz com que os artigos chineses sejam, em média, relativamente pouco citados por outros pesquisadores -ou seja, os estudos chineses ainda não são muito influentes.
Cheng falou com a Folha durante um encontro de especialistas em elaboração de rankings de universidades em Bratislava, Eslováquia.

 

Folha - A China caiu algumas posições no último THE, mas tem duas universidades entre as 50 melhores do mundo. O Brasil tem apenas uma instituição (a USP) entre as 200 primeiras. O que faz as universidades chinesas irem bem nessas listagens?
Ying Cheng -
É preciso observar que a China vai bem nos rankings que consideram reputação acadêmica, medida por meio de questionários enviados a cientistas e empregadores.
Contudo, se você olhar especificamente para os indicadores objetivos, como o impacto da produção científica, medida pelas citações dos artigos científicos feitas por cientistas, verá que a China continua mal.
Se fizéssemos um ranking apenas de citações, a China estaria atrás das 200 primeiras do mundo.

Mas por que a China vai bem nas pesquisas de reputação?
Não sei. Talvez porque todo mundo esteja falando da China hoje. O país tem uma influência significativa na economia mundial, mas temos pouca internacionalização de alunos e de professores. A maioria dos estudantes estrangeiros está na China para aprender chinês ou para estudar medicina oriental.
Se considerássemos só o indicador de internacionalização, ficaríamos atrás das 300 melhores universidades do mundo! Mas publicamos muito. Vamos bem em termos de quantidade.

Ainda sobre internacionalização, a China tem feito pesquisas em parceria com outros países? Sabe-se que as pesquisas em parceria costumam aumentar as citações dos artigos científicos em cerca de três vezes...
Acredito que as instituições chinesas têm encorajado os seus cientistas a fazerem pesquisas em colaboração. Mas esses trabalhos são feitos basicamente com os EUA e com a Europa.
Quase não temos colaborações com a América Latina, por exemplo. Se você estudar em Harvard, no MIT ou em Cambridge, você será bem-vindo para fazer uma pesquisa em parceria com uma instituição asiática. Contudo, se você for pesquisador de uma universidade pequena de um país em desenvolvimento, você não será tão bem-vindo.
Hoje, os países asiáticos querem fazer pesquisa em parceria com as instituições mais fortes do mundo, não com as pequenas.

A China tem tido sucesso em atrair de volta para o país os cientistas que foram para grandes centros no exterior?
Sim, porque nós podemos oferecer os mesmos salários que eles recebem nos EUA ou na Europa Ocidental.
Nós podemos pagar os mesmos US$ 50 mil dólares por ano que as pessoas ganham numa universidade americana. Se queremos ter as melhores universidades do mundo, nós precisamos dos melhores professores. E onde eles estão? Estão trabalhando nas melhores instituições da Europa Ocidental e dos EUA. Nós precisamos trazê-los para a China.


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