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Amazônia deve suas espécies a
formação dos Andes, diz estudo
Surgimento das montanhas modificou os rios e solos da região
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE CIÊNCIA
Se o Egito é uma dádiva do
Nilo, como se costuma dizer,
a diversidade estonteante de
espécies da Amazônia é um
presente dos Andes, afirma
uma nova pesquisa.
Com base em dados que
vão de análises de DNA a estudos detalhados de fósseis e
solos, a equipe do estudo
concluiu que os grandes pulsos de especiação (ou seja, de
surgimento de novas espécies) na região amazônica
batem com as fases de formação das grandes montanhas.
"Em resumo, essas espécies se criaram em resposta
ao surgimento dos Andes, e
"in situ", na própria Amazônia -não vieram já prontas
de outros lugares", disse à
Folha o biólogo brasileiro
Alexandre Antonelli, que trabalha no Jardim Botânico de
Gotemburgo (Suécia) e é um
dos autores da pesquisa na
revista "Science".
A missão de Antonelli, que
é de Campinas (SP) e se casou com uma sueca, foi vasculhar milhares de artigos
científicos, em busca de filogenias (grosso modo, árvores
genealógicas evolutivas) de
grupos de animais e plantas
do norte da América do Sul.
Várias dessas filogenias
são datadas com base no
chamado relógio molecular
(grosso modo, o ritmo com
que mutações afetam o
DNA), e as datas sugerem influência andina, coincidindo
com as grandes fases de expansão das montanhas, primeiro há 23 milhões de anos
e, principalmente, a partir de
10 milhões de anos atrás.
Quando os Andes "brotaram", sua ação pode ter levado a uma explosão de biodiversidade por diversas razões. A mais simples, explica
o biólogo, envolve o isolamento: duas populações do
mesmo bicho, separadas por
uma nova montanha, seguiam caminhos distintos,
até virar espécies diferentes.
O avanço andino modificou o traçado dos rios e os solos da região. Até 7 milhões
de anos atrás, por exemplo, o
oeste da Amazônia era um
superpantanal, que foi soterrado pelos sedimentos das
terras altas.
Esses sedimentos, junto
com a maior quantidade de
chuva vinda dos Andes, afetaram principalmente o oeste
da Amazônia, hoje a área
mais rica em espécies.
"Uma das possíveis explicações para isso é que essa
região ficou com solos bastante heterogêneos, permitindo que muitas espécies diferentes de planta os explorassem", diz Antonelli.
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