São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Próximo Texto | Índice

Aquecimento global já afeta até o espaço

Emissões de gás carbônico reduzem a densidade da termosfera, camada mais externa da atmosfera, onde orbitam satélites

Fenômeno confirmado por americanos já havia sido previsto; redução é de 1,7% por década desde 1970 e beneficia indústria espacial

DA REDAÇÃO

Os efeitos do aquecimento global já foram, literalmente, para o espaço. Um novo estudo mostra que as emissões humanas de gás carbônico estão modificando até mesmo a camada mais externa da atmosfera terrestre, onde orbitam os satélites. Porém, ironicamente, isso pode ser uma boa notícia. Para os satélites, pelo menos.
As emissões de gases-estufa, segundo descobriu um grupo de cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA, estão reduzindo a densidade da termosfera, a gélida camada atmosférica onde orbitam vários satélites, o Telescópio Espacial Hubble e a Estação Espacial Internacional. Essa redução tem sido de 1,7% por década, em média, nos últimos 30 anos.
A projeção dos pesquisadores, liderados por Liying Quian e Stanley Solomon, é que até 2017 a termosfera fique 3% mais rarefeita.
Para as agências espaciais do mundo todo, a descoberta é uma espécie de prêmio de consolação pela tragédia imposta aqui embaixo pelo aquecimento desenfreado da atmosfera, causado sobretudo pelas emissões de gás carbônico produzidas pela queima de combustíveis fósseis. A redução da densidade da termosfera diminui também o arrasto, ou resistência imposta pelo pouco ar existente naquelas alturas ao deslocamento de naves espaciais. Isso facilita sua órbita.
Conhecer o comportamento da termosfera e projetar sua densidade significa economizar milhões de dólares em combustível e projetar satélites que possam ficar em órbita mais tempo, dizem os cientistas.

Modelos
Desde o final da década de 1980 os cientistas supunham que o aquecimento da troposfera (a camada inferior da atmosfera) fosse capaz de produzir um paradoxal resfriamento da termosfera, com a diminuição da sua densidade.
Esse fenômeno aparentemente contra-sensal ocorre justamente devido à diferença de densidade. Na troposfera, o gás carbônico (CO2) e outros gases-estufa aprisionam a radiação emitida pela Terra, mas há tantas moléculas "congestionando" o ar que o choque entre elas acaba fazendo o CO2 emitir energia em forma de calor antes de refletir a radiação. Isso esquenta a troposfera.
A densidade da atmosfera, no entanto, diminui com a altitude. A termosfera é extremamente rarefeita, ou seja, há bem menos moléculas de gás dissolvidas nela -e nenhum "congestionamento".
Ali, as moléculas de CO2 absorvem energia ao colidirem com átomos de oxigênio. Mas há muito tempo para elas reemitirem essa energia antes que outra colisão aconteça. O resultado é um resfriamento daquela camada atmosférica, e a redução da sua densidade.
"É o que você vê numa estufa de plantas numa noite fria: mais calor dentro e um resfriamento do lado de fora", disse Solomon. Ele e seu grupo usaram dados sobre o decaimento de satélites, cruzados com os dados de emissões de gás carbônico, para confirmar as previsões teóricas. O estudo foi publicado na revista "Geophysical Research Letters".


Próximo Texto: Ártico fica sem gelo no verão em 2040, diz grupo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.