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Aquecimento global já afeta até o espaço
Emissões de gás carbônico reduzem a densidade da termosfera, camada mais externa da atmosfera, onde orbitam satélites
Fenômeno confirmado por
americanos já havia sido
previsto; redução é de 1,7%
por década desde 1970 e
beneficia indústria espacial
DA REDAÇÃO
Os efeitos do aquecimento
global já foram, literalmente,
para o espaço. Um novo estudo
mostra que as emissões humanas de gás carbônico estão modificando até mesmo a camada
mais externa da atmosfera terrestre, onde orbitam os satélites. Porém, ironicamente, isso
pode ser uma boa notícia. Para
os satélites, pelo menos.
As emissões de gases-estufa,
segundo descobriu um grupo
de cientistas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica
dos EUA, estão reduzindo a
densidade da termosfera, a gélida camada atmosférica onde
orbitam vários satélites, o Telescópio Espacial Hubble e a
Estação Espacial Internacional. Essa redução tem sido de
1,7% por década, em média, nos
últimos 30 anos.
A projeção dos pesquisadores, liderados por Liying Quian
e Stanley Solomon, é que até
2017 a termosfera fique 3%
mais rarefeita.
Para as agências espaciais do
mundo todo, a descoberta é
uma espécie de prêmio de consolação pela tragédia imposta
aqui embaixo pelo aquecimento desenfreado da atmosfera,
causado sobretudo pelas emissões de gás carbônico produzidas pela queima de combustíveis fósseis. A redução da densidade da termosfera diminui
também o arrasto, ou resistência imposta pelo pouco ar existente naquelas alturas ao deslocamento de naves espaciais. Isso facilita sua órbita.
Conhecer o comportamento
da termosfera e projetar sua
densidade significa economizar milhões de dólares em combustível e projetar satélites que
possam ficar em órbita mais
tempo, dizem os cientistas.
Modelos
Desde o final da década de
1980 os cientistas supunham
que o aquecimento da troposfera (a camada inferior da atmosfera) fosse capaz de produzir
um paradoxal resfriamento da
termosfera, com a diminuição
da sua densidade.
Esse fenômeno aparentemente contra-sensal ocorre
justamente devido à diferença
de densidade. Na troposfera, o
gás carbônico (CO2) e outros
gases-estufa aprisionam a radiação emitida pela Terra, mas
há tantas moléculas "congestionando" o ar que o choque
entre elas acaba fazendo o CO2
emitir energia em forma de calor antes de refletir a radiação.
Isso esquenta a troposfera.
A densidade da atmosfera,
no entanto, diminui com a altitude. A termosfera é extremamente rarefeita, ou seja, há
bem menos moléculas de gás
dissolvidas nela -e nenhum
"congestionamento".
Ali, as moléculas de CO2 absorvem energia ao colidirem
com átomos de oxigênio. Mas
há muito tempo para elas reemitirem essa energia antes que
outra colisão aconteça. O resultado é um resfriamento daquela camada atmosférica, e a redução da sua densidade.
"É o que você vê numa estufa
de plantas numa noite fria:
mais calor dentro e um resfriamento do lado de fora", disse
Solomon. Ele e seu grupo usaram dados sobre o decaimento
de satélites, cruzados com os
dados de emissões de gás carbônico, para confirmar as previsões teóricas. O estudo foi publicado na revista "Geophysical Research Letters".
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