São Paulo, sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

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Ban elogia Brasil, que alivia para desmatador

País defende na ONU metas contra corte raso, mas edita decreto postergando multa

Secretário-geral das Nações Unidas disse ontem durante negociação do pós-Kyoto na Polônia que Brasil tem "uma das economias mais verdes"


Kakper Pempel/Reuters
Ban Ki-Moon disse querer organizar uam reunião sobre o clima na sede na ONU em 2009, antes do encontro de Copenhague

AFRA BALAZINA
ENVIADA ESPECIAL A POZNAN (POLÔNIA)

No dia em que o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, afirmou que o Brasil "construiu uma das economias mais verdes do mundo", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi alvo de críticas de ambientalistas por permitir que desmatadores fiquem irregulares por mais um ano. Ban elogiou o Brasil na abertura da sessão de alto nível da COP-14 (14ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas), em Poznan (Polônia), da qual participam ministros do Ambiente de mais de 150 nações. Ele disse que o país criou milhões de empregos durante o processo de "esverdear" a economia.
O reconhecimento internacional, porém, foi em parte apagado pela assinatura pelo governo federal de um decreto que determina que o Ibama não poderá cobrar multas de quem ocupou irregularmente a reserva legal -área de proibição de desmate em cada propriedade rural (leia texto abaixo).
"O governo Lula agiu como sempre faz com as questões ambientais. A proteção do ambiente fica só no discurso, porque na prática ele sempre acaba cedendo às pressões da bancada ruralista", disse Sérgio Leitão, do Greenpeace. "Como é que o governo vai cumprir a meta se ele estimula a impunidade para quem desmata?" Ontem, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) apresentou em Poznan, numa sala lotada de interessados, o Plano Nacional de Mudanças Climáticas. Ele ressaltou que o país agora tem uma meta de redução da taxa de desmatamento de 70% até 2018. E pediu que os países desenvolvimentos apóiem essa iniciativa.
Outras ações para beneficiar as florestas e o clima foram anunciadas na conferência.
O Banco Mundial negocia um empréstimo ao Brasil para a área ambiental de aproximadamente US$ 1,3 bilhão para permitir o desenvolvimento sustentável e proteger o ambiente. O acordo está sendo firmado entre o banco e os ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente, além do BNDES.
Do Reino Unido virá outros recursos. Em sua fala no plenário, o secretário britânico de Clima e Energia, Ed Miliband, afirmou que o país irá contribuir com 100 milhões de libras para a área de florestas. "Proteger e repor as florestas do planeta é essencial para combater as mudanças climáticas", disse.

Tecnologia
Em seu discurso para os demais ministros, Minc surpreendeu inclusive o Itamaraty com uma sugestão para solucionar o impasse a respeito da transferência de tecnologia limpa para os países pobres.
Ele disse que os países em desenvolvimento têm também responsabilidade, mas para fazerem sua parte precisam de "aporte financeiro e tecnológico". Para isso, inventou e batizou uma "Aliança Tecnológica de Inovações Antiaquecimento". Tecnologias poderiam ser transferidas de graça às nações pobres e os donos de suas patentes seriam compensados por um fundo internacional.
Em outras reuniões, o Brasil já sugeriu a quebra de patentes.
Minc afirmou que está com uma expectativa "média superior" para as reuniões do alto escalão. O objetivo do grupo será fazer um esboço do acordo que irá substituir o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012.
O acordo será fechado daqui um ano, em Copenhague (Dinamarca). Ontem, um relógio começou a marcar o tempo que falta para a decisão final -353 dias. "O tempo está correndo", alertou Yvo de Boer, o secretário-executivo da Convenção do Clima da ONU. "As Maldivas estão economizando para poder promover o êxodo em razão do aumento do nível do mar.
Esses são assuntos que vocês precisam abordar hoje", disse aos ministros.

A repórter AFRA BALAZINA se hospeda na Polônia a convite da Convenção do Clima da ONU



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