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São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

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POLÍTICA CIENTÍFICA

Novo presidente da agência federal de fomento à pesquisa promete honrar compromissos assumidos

Camargo quer recuperar imagem do CNPq

Fabiana Beltramin/Folha Imagem
O novo presidente do CNPq, Erney Plessmann de Camargo, dá entrevista coletiva no Instituto Butantan de São Paulo


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O futuro presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) quer resgatar a credibilidade do principal órgão de fomento à ciência no país com os pesquisadores brasileiros. Para obter isso, o médico parasitologista Erney Plessmann de Camargo, 67, pretende "honrar os compromissos já assumidos" e não criar nenhum projeto ou programa sem que a verba para eles esteja garantida.
Ele diz que durante o governo Fernando Henrique Cardoso houve, em vários momentos, "erro de cálculo e erro de diálogo" para com a comunidade científica, uma "distorção entre a intenção e o gesto". Se de um lado os planos eram bons, de outro os sucessivos contingenciamentos de recursos causados pela área econômica do governo federal frustravam as intenções do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), na sua avaliação.
Foi o caso por exemplo do Pronex (Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência), que sofreu sucessivos cortes, afetando inclusive o próprio grupo de pesquisa de Camargo na USP.
Outro "anseio antigo" dos cientistas que ele pretende satisfazer é aumentar o chamado "programa de balcão", a demanda dos próprios cientistas por verbas, em oposição aos recursos dirigidos pela agência para as áreas que considera prioritárias. Ele diz que deve haver um equilíbrio entre as duas formas de financiamento, a espontânea e a induzida.
Ao contrário de agências de fomento como a paulista Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o CNPq costuma ser criticado pela comunidade científica por ter uma burocracia inchada e elevados gastos administrativos. Camargo diz que não há muito o que fazer a respeito -"os cargos foram se acumulando no serviço público em geral". A solução, segundo o médico, é procurar "produzir o máximo com o que se dispõe".
O MCT já anunciou que vai ampliar o número de bolsas de mestrado e doutorado de 11.034 para 12.010 (aumento de 8,8%). Também há planos de aumentar o número de bolsas para doutores desenvolverem atividades de pesquisa (de 707 para 945, mais 33,6%), entre outras medidas.
Ele considera "auspiciosíssimo" que o ministério tenha sido o menos afetado pelos cortes de verba do orçamento federal anunciados anteontem pelo governo Lula.

Sem cotas regionais
Para diminuir o desequilíbrio na produção de ciência entre as diferentes regiões do país, haverá um programa de fixação de doutores e outro de bolsas de desenvolvimento científico regional.
Camargo diz que não se trata de criação de "cotas" predeterminadas para regiões mais carentes, como o Nordeste, mas sim de mecanismos que estimulem o acesso dos pesquisadores dessas regiões a bolsas do CNPq.
Cauteloso, ele não quis revelar área estratégica alguma para a qual gostaria de dirigir a pesquisa, enquanto não houver a verba confirmada para ela.
Um exemplo -Camargo pareceu fazer questão de ressaltar que se trata de apenas um entre vários possíveis- seria dirigir a verba para problemas nacionais, como certas doenças tropicais. "Se nós não estudarmos, ninguém o fará", disse, já que tais doenças não afetam países do Primeiro Mundo.
O futuro presidente do CNPq, que atualmente dirige o Instituto Butantan em São Paulo, deve tomar posse amanhã às 11h em Brasília. Ele era professor-assistente na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo quando foi cassado, em 1964, com base no Ato Institucional Número 1.
Voltou ao Brasil em 1970 e foi convidado no ano seguinte para a Escola Paulista de Medicina (hoje Universidade Federal de São Paulo, a Unifesp), onde trabalhou por 15 anos. Em 1986 voltou para a USP, como professor titular no Instituto de Ciências Biomédicas.


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