|
Próximo Texto | Índice
CIBERNÉTICA
Chip que substitui área do sistema nervoso relacionada à memória deverá ser testado em ratos em seis meses
Americanos criam 1ª prótese de cérebro
DUNCAN GRAHAM-ROWE
DA "NEW SCIENTIST"
Um hipocampo artificial, a primeira prótese cerebral desenvolvida no mundo, está para ser testado na Califórnia, EUA. Diferente de outros dispositivos, que só
estimulam a atividade nervosa, o
chip de silício irá desempenhar os
mesmos processos que a parte do
cérebro que ele substitui.
A prótese será testada primeiro
em tecido cerebral de ratos -e
então em animais vivos. Se tudo
correr bem, será então testada como um potencial modo de ajudar
pessoas que sofreram lesão cerebral devido a derrames, epilepsia
ou mal de Alzheimer.
Qualquer dispositivo que imite
o cérebro levanta questões éticas.
O cérebro não afeta apenas a memória, mas o humor, a percepção
e a consciência -partes da identidade fundamental de uma pessoa, segundo o eticista Joel Anderson, da Universidade Washington em St. Louis, Missouri.
Modelo ideal
Os pesquisadores que estão desenvolvendo a prótese cerebral
acham que é o caso de testar. "Se
você não pode fazer com o hipocampo, você não pode fazer com
nada", diz o líder da equipe,
Theodore Berger, da Universidade do Sul da Califórnia em Los
Angeles. O hipocampo é a parte
mais ordenada e estruturada do
cérebro, e uma das mais estudadas. Seu trabalho parece ser "codificar" experiências de modo
que elas possam ser armazenadas
como memórias de longo prazo
em outra parte do cérebro.
"Se você perder seu hipocampo,
só perde a habilidade de guardar
novas memórias", diz Berger. Isso
oferece um modo relativamente
simples e seguro de testar o dispositivo: se alguém com a prótese recupera a habilidade de guardar
novas memórias, então é seguro
presumir que funciona.
Os inventores da prótese tiveram de superar três grandes dificuldades. Eles precisaram desenvolver um modelo de como o hipocampo opera sob todas as condições possíveis, gravá-lo num
chip de silício e então criar uma
interface entre o chip e o cérebro.
Ninguém entende como o hipocampo codifica informação. Então a equipe simplesmente copiou
seu comportamento. Fatias de hipocampo de ratos foram estimuladas com sinais elétricos, milhões de vezes, até que eles estivessem certos de qual estímulo elétrico gerava qual resposta elétrica.
Juntando a informação de várias
fatias foi possível obter um modelo do hipocampo inteiro.
Eles então programaram o modelo num chip, que num paciente
humano seria instalado no crânio, fora do cérebro. O hipocampo pode ser imaginado como
uma série de circuitos nervosos
similares que trabalham em paralelo, diz Berger, de modo que seria
possível descartar a região danificada inteiramente.
Dez anos de trabalho
Berger e sua equipe levaram cerca de dez anos para desenvolver o
chip. Eles estão para testá-lo em
fatias de cérebro de rato. "É um
passo muito importante, porque é
a primeira vez que colocamos todas as peças juntas", diz.
Se funcionar, a equipe irá testar
a prótese em ratos vivos em seis
meses e então em macacos treinados para executar tarefas de memória. Os pesquisadores irão interromper parte do funcionamento do hipocampo do macaco
e substituí-lo pelo chip.
O hipocampo tem uma estrutura similar na maioria dos mamíferos então pouco precisará ser mudado para adaptar a tecnologia
para pessoas. Mas, antes que testes com humanos comecem, a
equipe terá de provar inequivocamente que a prótese é segura.
Um contratempo é que ela irá
inevitavelmente suplantar algum
tecido cerebral sadio. Mas isso
não deve afetar as memórias do
paciente, diz Berger.
Enquanto os testes com macacos nos dirão muito sobre o desempenho da prótese, ainda haverá algumas perguntas não-respondidas. Por exemplo, não está
claro se teremos algum controle
sobre o que lembramos. Se tivermos, os implantes cerebrais do futuro poderiam forçar as pessoas a
lembrar coisas que elas prefeririam esquecer?
Outra interrogação ética diz respeito ao consentimento para a introdução da prótese, diz Anderson. As pessoas que mais precisam serão as com um hipocampo
danificado e uma habilidade reduzida de formar novas memórias. "Se alguém não pode formar novas memórias, então até onde
elas podem consentir o recebimento do implante?"
Próximo Texto: Paleontologia: Trio acha pegada humana mais velha Índice
|