|
Próximo Texto | Índice
Aquecimento vai reduzir mata atlântica
Bioma mais ameaçado do país, do qual restam 7%, pode perder até 60% da área se média do planeta subir de 3 C a 4 C
Estudo da Unicamp com 30
espécies vegetais é primeiro
a tentar elucidar o impacto
da mudança global do clima
sobre essa floresta tropical
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
A mata atlântica brasileira
pode perder cerca de 60% de
sua área atual se a temperatura
média do planeta subir de 3 C
a 4 C até o fim deste século.
O cálculo é de Carlos Alfredo
Joly, botânico da Unicamp, e
foi feito com base nas previsões
do terceiro relatório do IPCC
(Painel Intergovernamental
sobre Mudança Climática), divulgado em 2001. Mas o quarto
relatório do painel do clima, divulgado em fevereiro deste ano,
estima que seja essa a faixa de
aumento na temperatura global até 2100.
A íntegra do trabalho científico, apresentado em parte durante o 1º Simpósio Brasileiro
de Mudanças Ambientais Globais, encerrado ontem no Rio,
será divulgada no meio do ano.
E traz projeções desagradáveis.
"O palmito, por exemplo,
tende a desaparecer por completo", explicou o pesquisador.
Joly adianta que o estudo é
uma aproximação. Ele e seu
grupo usaram 30 espécies de
planta típicas do bioma, o mais
ameaçado do Brasil (resta hoje
apenas 6,98% da sua cobertura
vegetal original).
"A queda de 60%, de acordo
com o cenário mais pessimista
do IPCC, não significa então
que podemos derrubar tudo
hoje de vez, já que a perda é inevitável", lembra Joly. "Agora é
preciso ter mais cuidado com a
floresta ainda", disse.
Visão otimista
A análise da Unicamp é a primeira a tentar relacionar o impacto as mudanças ambientais
globais sobre a floresta atlântica. Ela também levou em conta
um dos cenários otimistas do
penúltimo relatório do IPCC.
Nesse caso, no fim deste século, a temperatura subiria, na
média, entre 1,5 C e 2 C.
"A diminuição na área da mata atlântica, nesse caso, seria de
28%. Apenas para algumas espécies, que vivem nas bordas
desse bioma, essa situação seria
benéfica -elas cresceriam em
área de distribuição", disse.
Nas duas simulações, os pesquisadores compararam a situação climática atual com
aquela que deverá existir no futuro. "Levamos em consideração a temperatura, a precipitação e a umidade presente no
ambiente", explicou.
Nesse cenário, as condições
ambientais da região onde hoje
se encontra a floresta atlântica
mudarão tanto que não serão
mais compatíveis com a presença de uma floresta tropical,
bioma que depende de uma determinada quantidade de chuvas e de uma determinada faixa
de temperatura para existir.
Segundo Joly, não é possível
saber o que ocorrerá com a floresta. "Não sabemos se ela vai
simplesmente morrer ou virar
outra coisa. É certo que apenas
em algumas áreas, por causa
talvez da topografia, a mata
atlântica continuará a existir."
Se a fragmentação acontecer,
a mata atlântica estará seguindo a reação à mudança climática de outra floresta tropical
brasileira, a amazônica. Um
modelo do Inpe estima que
parte da Amazônia tende a virar uma espécie de savana com
o aquecimento global.
Números
O pesquisador da Unicamp,
um dos principais especialistas
em ecologia vegetal do Brasil,
também comentou os estudos
feitos a pedido do Ministério do
Meio Ambiente sobre remanescentes vegetais.
A análise do governo federal
revelou um crescimento surpreendente da mata atlântica.
Pelo novo mapeamento, haveria no Brasil, em vez dos conhecidos 7%, quase quatro vezes
mais de área no bioma (27,1%).
Para o botânico, a análise do
MMA considera áreas que não
podem ser chamadas de mata
atlântica. "São capoeiras."
Próximo Texto: Manguezais podem ser beneficiados Índice
|