São Paulo, sexta-feira, 13 de abril de 2007

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Gene alterado eleva o risco de obesidade

Variação genética descoberta em estudo sobre diabetes torna portadores até 70% mais propensos a ficar acima do peso

Gene está espalhado em 63% da população branca de origem européia, segundo pesquisa que analisou 39 mil seqüências de DNA

Toby Melville/Reuters
Viajante obeso espera vôo no Reino Unido, país no qual a obesidade infanto-juvenil cresceu 50%


DA REDAÇÃO

Uma alteração em um único gene pode elevar o risco de uma pessoa se tornar obesa em até 70%. A descoberta é a primeira a ligar a obesidade a uma alteração genética que está disseminada em boa parte da população, dizem cientistas.
Uma equipe internacional liderada pelo Centro de Genética Humana do Wellcome Trust, em Oxford (Reino Unido), fez a descoberta durante um estudo sobre diabetes com cerca de 5.000 voluntários.
Ao analisar um gene batizado com a sigla FTO -ligado também à predisposição para a doença-, os pesquisadores descobriram que na verdade ele está envolvido na determinação do peso da pessoa.
Aqueles que nascem com uma variante específica do FTO sofrem drástico aumento no risco de se tornarem obesos após os sete anos de idade (e de ter maior risco de diabetes).
Segundo estudo publicado hoje no site da revista "Science" (www.sciencexpress.org), o risco de quem tem uma de suas duas cópias do FTO com a variação se tornar obeso é 30% maior do que no restante da população. Aqueles com duas cópias da variante estão sob risco 70% maior, e são três quilos mais pesados, em média.
Após concluir os estudos com as amostras de DNA recolhidas para a pesquisa sobre diabetes, os cientistas reproduziram a investigação com dados de outras 12 pesquisas, e reuniram informações genéticas de 39 mil pessoas brancas de origem européia. Cerca de 16% delas eram portadores de mutação dupla e 47% de mutação simples no FTO.
"Nossa descoberta sugere uma resposta possível para alguém que pergunte "Eu como a mesma coisa que meu vizinho e faço exercícios como ele, então porque sou mais gordo?'", disse Mark McCarthy, líder da pesquisa, em comunicado à imprensa. "Há um componente genético claro na obesidade."
Apesar de terem verificado uma correlação estatística bastante evidente entre variações do FTO e obesidade, os cientistas ainda não sabem qual é o papel do gene no organismo.
A necessidade de os autores reunirem tantas amostras de DNA para a pesquisa vem deste problema, em parte. Estudos passados que ligavam outros genes à obesidade acabaram caindo por terra depois que outros pesquisadores tentaram reproduzir as conclusões em populações diferentes.
No estudo do Wellcome Trust, indivíduos eram classificados como obesos ou não de acordo com o IMCs (índices de massa corpórea). É um número obtido pelo peso dividido pela altura elevada ao quadrado.
Apesar de pessoas com IMC acima de 30 serem genericamente consideradas obesas, os cientistas ainda fizeram algumas análises de controle (medição da cintura, por exemplo) para saber se o problema era mesmo acúmulo de gordura.
Uma vez que aquilo que se investigava era uma causa genética, famílias de pessoas naturalmente mais musculosas ou com ossos pesados poderiam "enganar" as estatísticas. Mas o problema era mesmo o excesso de tecido adiposo.

Corrida biomolecular
Como os pesquisadores ainda não sabem qual é o papel biológico do gene FTO, ainda não está claro o quanto a descoberta pode ajudar no estudo de tratamentos futuros contra a obesidade. O interesse comercial por drogas do gênero, porém, deve provocar uma corrida científica em torno do gene.
"Estudos com gêmeos e crianças adotadas demonstraram que fatores genéticos têm papel importante em influenciar quais indivíduos de uma população têm mais tendência a desenvolver obesidade em ambientes particulares" escrevem os cientistas.
"Entender como a variação na região do gene FTO está associada à adiposidade pode fornecer idéias sobre novas vias moleculares envolvidas com o seu controle."


Com agências internacionais


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