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Gene alterado eleva o risco de obesidade
Variação genética descoberta em estudo sobre diabetes torna portadores até 70% mais propensos a ficar acima do peso
Gene está espalhado em
63% da população branca de
origem européia, segundo
pesquisa que analisou 39
mil seqüências de DNA
Toby Melville/Reuters
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Viajante obeso espera vôo no Reino Unido, país no qual a obesidade infanto-juvenil cresceu 50% |
DA REDAÇÃO
Uma alteração em um único
gene pode elevar o risco de uma
pessoa se tornar obesa em até
70%. A descoberta é a primeira
a ligar a obesidade a uma alteração genética que está disseminada em boa parte da população, dizem cientistas.
Uma equipe internacional liderada pelo Centro de Genética
Humana do Wellcome Trust,
em Oxford (Reino Unido), fez a
descoberta durante um estudo
sobre diabetes com cerca de
5.000 voluntários.
Ao analisar um gene batizado
com a sigla FTO -ligado também à predisposição para a
doença-, os pesquisadores
descobriram que na verdade
ele está envolvido na determinação do peso da pessoa.
Aqueles que nascem com
uma variante específica do
FTO sofrem drástico aumento
no risco de se tornarem obesos
após os sete anos de idade (e de
ter maior risco de diabetes).
Segundo estudo publicado
hoje no site da revista "Science"
(www.sciencexpress.org), o
risco de quem tem uma de suas
duas cópias do FTO com a variação se tornar obeso é 30%
maior do que no restante da
população. Aqueles com duas
cópias da variante estão sob
risco 70% maior, e são três quilos mais pesados, em média.
Após concluir os estudos
com as amostras de DNA recolhidas para a pesquisa sobre
diabetes, os cientistas reproduziram a investigação com dados de outras 12 pesquisas, e
reuniram informações genéticas de 39 mil pessoas brancas
de origem européia. Cerca de
16% delas eram portadores de
mutação dupla e 47% de mutação simples no FTO.
"Nossa descoberta sugere
uma resposta possível para alguém que pergunte "Eu como a
mesma coisa que meu vizinho e
faço exercícios como ele, então
porque sou mais gordo?'", disse
Mark McCarthy, líder da pesquisa, em comunicado à imprensa. "Há um componente
genético claro na obesidade."
Apesar de terem verificado
uma correlação estatística bastante evidente entre variações
do FTO e obesidade, os cientistas ainda não sabem qual é o
papel do gene no organismo.
A necessidade de os autores
reunirem tantas amostras de
DNA para a pesquisa vem deste
problema, em parte. Estudos
passados que ligavam outros
genes à obesidade acabaram
caindo por terra depois que outros pesquisadores tentaram
reproduzir as conclusões em
populações diferentes.
No estudo do Wellcome
Trust, indivíduos eram classificados como obesos ou não de
acordo com o IMCs (índices de
massa corpórea). É um número
obtido pelo peso dividido pela
altura elevada ao quadrado.
Apesar de pessoas com IMC
acima de 30 serem genericamente consideradas obesas, os
cientistas ainda fizeram algumas análises de controle (medição da cintura, por exemplo)
para saber se o problema era
mesmo acúmulo de gordura.
Uma vez que aquilo que se
investigava era uma causa genética, famílias de pessoas naturalmente mais musculosas
ou com ossos pesados poderiam "enganar" as estatísticas.
Mas o problema era mesmo o
excesso de tecido adiposo.
Corrida biomolecular
Como os pesquisadores ainda não sabem qual é o papel
biológico do gene FTO, ainda
não está claro o quanto a descoberta pode ajudar no estudo de
tratamentos futuros contra a
obesidade. O interesse comercial por drogas do gênero, porém, deve provocar uma corrida científica em torno do gene.
"Estudos com gêmeos e
crianças adotadas demonstraram que fatores genéticos têm
papel importante em influenciar quais indivíduos de uma
população têm mais tendência
a desenvolver obesidade em
ambientes particulares" escrevem os cientistas.
"Entender como a variação
na região do gene FTO está associada à adiposidade pode fornecer idéias sobre novas vias
moleculares envolvidas com o
seu controle."
Com agências internacionais
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