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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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MEDICINA

Testes feitos em camundongos e cães tiveram bom resultado; droga agora caminha para os testes com humanos

Substância cola osso sem efeito colateral

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cientistas dos EUA e da Croácia descobriram uma substância capaz de promover a regeneração de ossos que pode virar um novo tratamento para fraturas, se passar nos testes com humanos.
Os resultados dos experimentos, feitos primeiro com camundongos e depois com cães da raça beagle, foram publicados ontem on-line pela revista da Academia Nacional de Ciências americana, a "PNAS" (www.pnas.org).
No artigo, os pesquisadores relatam o sucesso na restituição de danos ósseos que normalmente teriam boa chance de sofrer, na melhor das hipóteses, uma regeneração parcial. "Usamos modelos que geralmente representam a "pior das hipóteses" em fraturas humanas", disse David Thompson, do setor de pesquisa da companhia farmacêutica Pfizer, a principal financiadora do estudo.
Tratamentos com efeito similar já existem, mas com alguns inconvenientes. "Há um método que usa a injeção de proteínas, mas essas substâncias estimulam a formação de anticorpos e são menos estáveis", explica Thompson. "A nossa é uma molécula pequena, não-protéica, e pode ser ministrada por injeção. No caso do outro tratamento, é preciso inserir as proteínas cirurgicamente, embebidas numa esponja colocada no local da fratura."
Como era de esperar, já que se trata de uma empresa farmacêutica em busca de patente, os cientistas não revelam o que há na substância. No estudo, ela é chamada apenas de CP-533.536. "É o código que damos a cada um dos compostos aqui na Pfizer, para catalogação", diz o pesquisador.
Tudo que se sabe é que a substância age num receptor específico de uma proteína conhecida como prostaglandina E2. Proteínas são as engrenagens que fazem um corpo funcionar. Seu formato determina em que receptores elas são capazes de encaixar, e a junção de uma proteína a um receptor desencadeia algum processo específico no organismo.
A prostaglandina age no organismo ativando, entre outras coisas, o processo de regeneração óssea. Só que ela também se liga a um monte de outras "fechaduras" químicas (receptores), que servem a funções diferentes. Isso faz com que o uso dessa substância como medicamento cause, além de reconstituição do osso, diarréia, letargia e rubores.
O segredo da CP-533.536 é agir especificamente em um dos receptores da prostaglandina, sem tocar nos demais. Os pesquisadores observaram a reconstituição óssea sem os efeitos colaterais. "Até agora não [vimos problemas com a droga], mas é muito cedo para dizer que isso não virá a acontecer", diz Thompson.
A busca da Pfizer, feita em parceria com a Atrix Laboratories, Inc. e com a Universidade de Zagreb, na Croácia, por uma substância com essas características já tinha dois anos. Os cientistas agora estão iniciando os testes clínicos, mas ainda não têm resultados para apresentar.
No laboratório, a busca por compostos ainda mais eficientes continua. Enquanto isso, a CP-533.536 será testada e, se tudo correr bem, pode eventualmente ganhar o mercado. "Mas esse processo é lento, deve demorar cinco anos ou mais", afirma o cientista.


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