|
Próximo Texto | Índice
Morre José Leite Lopes, físico e pioneiro da ciência
Cientista combateu a ditadura e articulou a criação de instituições de pesquisa
Físico foi precursor da área
que rendeu prêmio Nobel ao
norte-americano Steven
Weinberg; no Brasil, ajudou
a fundar o CBPF e o CNPq
Flávio Ferreira Cavalcanti
|
O físico pernambucano José Leite Lopes |
DA REPORTAGEM LOCAL
O físico pernambucano José
Leite Lopes, um dos maiores
nomes da ciência nacional,
morreu ontem no Rio de Janeiro aos 87 anos. Ele estava em
coma desde 22 de dezembro,
quando foi levado ao hospital
Samaritano após sentir-se mal.
Leite Lopes era separado e tinha três filhos. O hospital registrou sua morte às 8h15 por falência múltipla dos órgãos, e o
corpo do físico seguiu à tarde
para velório no CBPF (Centro
Brasileiro de Pesquisas Físicas), instituição que ajudou a
fundar. O enterro é às 10h de
hoje no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.
Leite Lopes ganhou prestígio
tanto por seus trabalhos acadêmicos quanto pela sua atuação
na área de política científica.
Participou de articulações para
criar o CBPF e outras instituições importantes, como a
CNEN (Comissão Nacional de
Energia Nuclear), o CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), e a Finep (Financiadora de Estudos e Pesquisas).
Durante o regime militar, entrou em atrito com o governo e
se exilou na França. "Além de
cientista, Leite Lopes era também um humanista excepcional", afirmam Ricardo Galvão,
diretor do CBPF, e Amós Troper, seu antecessor, em comunicado público.
"Ele foi importante também
no estímulo e na formação de
cientistas; no livro "Ciência e
Libertação", ele mostra a importância do país desenvolver
ciência para ser soberano", diz
o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende.
Como pesquisador, Leite Lopes se destacou na área de física
de partículas e trabalhou no
problema da integração de forças fundamentais da natureza.
"Por muito pouco ele não chegou à teoria unificada das interações eletromagnéticas e fracas, que deu o prêmio Nobel a
Steven Weinberg", diz Gastão
Krein, diretor do Instituto de
Física Teórica da Unesp.
Seu principal trabalho na
área foi a previsão teórica de
um novo tipo de partícula fundamental, o bóson vetorial.
"Durante muito tempo ele ficou meio aborrecido com o fato
de a sua previsão não ter sido
levada em conta pelos trabalhos que guiaram Weinberg",
conta o cosmólogo Mário Novello, que foi orientando de
mestrado de Leite Lopes. "Ele
estava discutindo os mesmos
problemas, mas por alguma razão de natureza política e social
não teve nenhum reconhecimento internacional por essa
atividade naquela época."
Próximo Texto: Frase Índice
|