São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2004

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DNA revela perfil sexual de colônias nas navegações

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Que duas colônias européias estabelecidas fora do Velho Mundo durante as grandes navegações tenham hoje uma população com forte ancestralidade espanhola, não é surpreendente. Mas ninguém precisa se precipitar a atribuir isso a marinheiros desesperados por companhia feminina, após um longo período no mar.
Análises de DNA revelam que, ao menos nas ilhas Canárias, localizadas na costa da África e ocupadas pela Espanha durante o início da expansão marítima, a população masculina nativa andou arranjando casamentos com as mulheres européias que lá se instalaram, deixando uma marca genética nas gerações futuras.
O estudo foi feito com base em análises do DNA de habitantes das ilhas e da Colômbia. Para inferir a participação masculina na sua composição, os cientistas estudaram o cromossomo Y, que só existe nos indivíduos do sexo masculino. No caso feminino, analisaram o DNA mitocondrial, que fica fora do núcleo da célula e só pode ser transmitido pela mãe.
A fim de identificar qual DNA veio de qual ancestralidade, rastrearam as amostras à procura de marcadores conhecidos que indicassem origem européia, africana ou nativa.
Os resultados nos dois casos foram distintos. Nas ilhas Canárias, 45% da população era descendente de mulheres espanholas, e 14% dela tinha ancestralidade de homens nativos.
Em comparação, no caso da Colômbia, apenas 1% dos indivíduos estudados apresentou descendência européia do lado feminino. A ancestralidade espanhola veio em 93% dos casos pelo lado paterno.
O achado foi uma surpresa. "Imaginava-se que a ocupação nas ilhas Canárias tivesse acontecido da mesma forma que na América, com a contribuição genética nativa tendo se dado quase exclusivamente pela mulher nativa", conta Maria Cátira Bortolini, pesquisadora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e autora do estudo, em parceria com cientistas no Brasil, no Reino Unido e na Venezuela.
"Percebemos, com os marcadores do cromossomo Y, que os homens guanches [originários das Canárias], diferentemente dos indígenas americanos, contribuíram de maneira expressiva para a formação das populações canárias atuais."
O estudo está na última edição do periódico brasileiro "Genetics and Molecular Biology" (www.scielo.org).


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