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DNA revela perfil
sexual de colônias
nas navegações
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Que duas colônias européias
estabelecidas fora do Velho
Mundo durante as grandes navegações tenham hoje uma população com forte ancestralidade espanhola, não é surpreendente. Mas ninguém precisa se precipitar a atribuir isso
a marinheiros desesperados
por companhia feminina, após
um longo período no mar.
Análises de DNA revelam
que, ao menos nas ilhas Canárias, localizadas na costa da
África e ocupadas pela Espanha durante o início da expansão marítima, a população
masculina nativa andou arranjando casamentos com as mulheres européias que lá se instalaram, deixando uma marca
genética nas gerações futuras.
O estudo foi feito com base
em análises do DNA de habitantes das ilhas e da Colômbia.
Para inferir a participação masculina na sua composição, os
cientistas estudaram o cromossomo Y, que só existe nos indivíduos do sexo masculino. No
caso feminino, analisaram o
DNA mitocondrial, que fica fora do núcleo da célula e só pode
ser transmitido pela mãe.
A fim de identificar qual
DNA veio de qual ancestralidade, rastrearam as amostras à
procura de marcadores conhecidos que indicassem origem
européia, africana ou nativa.
Os resultados nos dois casos
foram distintos. Nas ilhas Canárias, 45% da população era
descendente de mulheres espanholas, e 14% dela tinha ancestralidade de homens nativos.
Em comparação, no caso da
Colômbia, apenas 1% dos indivíduos estudados apresentou
descendência européia do lado
feminino. A ancestralidade espanhola veio em 93% dos casos
pelo lado paterno.
O achado foi uma surpresa.
"Imaginava-se que a ocupação
nas ilhas Canárias tivesse acontecido da mesma forma que na
América, com a contribuição
genética nativa tendo se dado
quase exclusivamente pela mulher nativa", conta Maria Cátira
Bortolini, pesquisadora da
UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul) e autora
do estudo, em parceria com
cientistas no Brasil, no Reino
Unido e na Venezuela.
"Percebemos, com os marcadores do cromossomo Y, que
os homens guanches [originários das Canárias], diferentemente dos indígenas americanos, contribuíram de maneira
expressiva para a formação das
populações canárias atuais."
O estudo está na última edição do periódico brasileiro
"Genetics and Molecular Biology" (www.scielo.org).
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