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Neurocientista transexual ataca o machismo em estudos cognitivos
Pesquisador nega que haja menos mulheres cientistas por razões biológicas
MARIANA TAMARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ben Barres é neurobiólogo da
Universidade Stanford, formado em medicina e com doutorado em Harvard. Isso já seria suficiente para qualificá-lo a argumentar contra uma idéia polêmica que vem ganhando força: a de que há menos mulheres
cientistas porque elas são biologicamente pouco aptas para a
ciência. Barres diz que isso não
passa de balela.
Mas o que mais confere credibilidade a ele na discussão sobre a diferença entre homens e
mulheres é que, ao longo da
maior parte de sua vida acadêmica, Barres foi conhecido como doutora Barbara. Em 1997,
ele trocou de sexo ao iniciar um
tratamento com hormônios.
Sua opinião foi publicada hoje na revista "Nature", como
resposta a um debate que se estende desde o ano passado,
quando o ex-presidente da Universidade Harvard, Larry Summers, defendeu que o baixo número de mulheres cientistas tinha como principal razão diferenças naturais entre os sexos.
O mais recente artigo que defende a idéia, "Homens, Mulheres e Fantasmas na Ciência",
foi escrito neste ano pelo biólogo Peter Lawrence, membro da
Royal Society, o principal órgão
científico britânico.
Principal alvo das críticas de
Barres, Lawrence garante que
foi mal-interpretado. "Recebi
mais de cem cartas. Cerca de
70% delas vieram de mulheres.
Muitas delas desistiram da carreira acadêmica pelas razões
que eu mencionei no artigo."
Falta de dados
O principal argumento de
Barres é que nem a palestra de
Summers nem os artigos dos
outros cientistas que defendem
sua posição usaram dados significativos para dar suporte à
idéia de que a biologia das mulheres é menos inclinada à matemática ou à ciência.
"As consequências são devastadoras quando renomados
cientistas homens fazem comentários tão fortes (mas sem
base científica nenhuma) sobre
supostas habilidades inferiores
das mulheres", disse Barres em
entrevista à Folha.
Barres descreve diversas experiências que teve pessoalmente, tanto como homem como quanto mulher, para sustentar sua hipótese.
O geneticista brasileiro Renato Zamora Flores, da
UFRGS, concorda com Lawrence. Para ele a mulher seria
naturalmente menos competitiva. Ele vê diferenças de aptidão entre os sexos "em todas as
atividades muito competitivas
e, em especial, nas patologicamente competitivas". Mas
pondera que "a literatura científica que correlaciona essas diferenças com desempenhos sociais é bastante contaminada
por outras variáveis".
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