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Imagem de cérebro revela "esquecimento proposital"
Experimento de ressonância magnética mostra como memórias são apagadas
Descoberta ainda não tem aplicação farmacológica, mas pode ajudar a projetar terapia comportamental, dizem cientistas americanos
"Science"
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Córtex frontal (vermelho) pode desligar outras áreas (azul) |
DA REDAÇÃO
Um grupo de neurocientistas
mostrou hoje imagens cerebrais de algo que os psicanalistas já relatam há algum tempo:
é possível "apagar" de propósito memórias sobre acontecimentos desagradáveis.
Em estudo publicado na edição de hoje da revista "Science", pesquisadores da Universidade do Colorado (EUA) apresentam seqüências de mapas
de ressonância magnética revelando as áreas ativadas pelo cérebro durante o processo de esquecimento deliberado. As
imagens mostram o córtex cerebral de voluntários submetidos a um experimento no qual
deveriam suprimir determinadas lembranças.
Os autores do trabalho, liderados por Brendan Depue, da
Universidade do Colorado
(EUA), afirmam que a descoberta pode ajudar no futuro a
projetar terapias comportamentais melhores para problemas psiquiátricos como ansiedade ou transtorno de estresse
pós-traumático.
O processo natural de esquecimento proposital consiste em
"desligar partes do cérebro que
são responsáveis por sustentar
as memórias", diz Depue. Entre
as partes desativadas está o
centro emocional do cérebro,
afirma o neurocientista.
No experimento, Depue e
seus colegas pediram a 18 voluntários para associar imagens de rostos de algumas pessoas a fotos de acidentes de
trânsito ou soldados feridos.
Depois, cada rosto aparecia para os voluntários 12 vezes e os
cientistas pediam a eles que se
lembrassem ou se esquecessem
das fotografias associadas com
cada um.
Quando os cientistas pediam
que alguém tentasse "bloquear" uma imagem negativa
em particular e olhasse para o
rosto associado pela última vez,
a ligação entre os dois se rompia. Em metade dos testes realizados, os voluntários não conseguiam mais associar os pares
de imagens relacionadas.
Durante a realização dos testes, os pesquisadores usaram
um aparelho capaz de fazer o
que os neurocientistas chamam de ressonância magnética
funcional (fMRI, na sigla em inglês), uma técnica que mostra
em tempo real a intensidade de
ativação em diferentes partes
do cérebro (veja foto à esq.)
No teste, partes específicas
do córtex pré-frontal -área cerebral envolvida no controle de
ações complexas e iniciativas-
apareciam "ligadas" ao mesmo
tempo em a atividade de partes
do córtex visual -o "processador de imagens" do cérebro-
diminuía. Momentos mais tarde, o hipocampo -estrutura
importante para formação de
memórias- e a amígdala -envolvida em emoções- também
tinham queda de atividade.
Segundo os autores do trabalho, essa descoberta de ciência
básica ainda está longe de poder ser traduzida em algo útil
em consultórios de psicólogos.
"Minha previsão é que não
será fácil suprimir coisas [lembranças] antigas e que envolvam emoções pessoais", diz Depue, que vê dificuldades para
aplicar seu estudo. "Pode ser
que pessoas com distúrbios de
memória tenham de ganhar algum controle sobre a representação de uma memória ao lembrar dela e experimentar uma
diferente reação emocional à
memória antes de suprimi-la."
Com Reutes
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