São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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Imagem de cérebro revela "esquecimento proposital"

Experimento de ressonância magnética mostra como memórias são apagadas

Descoberta ainda não tem aplicação farmacológica, mas pode ajudar a projetar terapia comportamental, dizem cientistas americanos

"Science"
Córtex frontal (vermelho) pode desligar outras áreas (azul)


DA REDAÇÃO

Um grupo de neurocientistas mostrou hoje imagens cerebrais de algo que os psicanalistas já relatam há algum tempo: é possível "apagar" de propósito memórias sobre acontecimentos desagradáveis.
Em estudo publicado na edição de hoje da revista "Science", pesquisadores da Universidade do Colorado (EUA) apresentam seqüências de mapas de ressonância magnética revelando as áreas ativadas pelo cérebro durante o processo de esquecimento deliberado. As imagens mostram o córtex cerebral de voluntários submetidos a um experimento no qual deveriam suprimir determinadas lembranças.
Os autores do trabalho, liderados por Brendan Depue, da Universidade do Colorado (EUA), afirmam que a descoberta pode ajudar no futuro a projetar terapias comportamentais melhores para problemas psiquiátricos como ansiedade ou transtorno de estresse pós-traumático.
O processo natural de esquecimento proposital consiste em "desligar partes do cérebro que são responsáveis por sustentar as memórias", diz Depue. Entre as partes desativadas está o centro emocional do cérebro, afirma o neurocientista.
No experimento, Depue e seus colegas pediram a 18 voluntários para associar imagens de rostos de algumas pessoas a fotos de acidentes de trânsito ou soldados feridos. Depois, cada rosto aparecia para os voluntários 12 vezes e os cientistas pediam a eles que se lembrassem ou se esquecessem das fotografias associadas com cada um.
Quando os cientistas pediam que alguém tentasse "bloquear" uma imagem negativa em particular e olhasse para o rosto associado pela última vez, a ligação entre os dois se rompia. Em metade dos testes realizados, os voluntários não conseguiam mais associar os pares de imagens relacionadas.
Durante a realização dos testes, os pesquisadores usaram um aparelho capaz de fazer o que os neurocientistas chamam de ressonância magnética funcional (fMRI, na sigla em inglês), uma técnica que mostra em tempo real a intensidade de ativação em diferentes partes do cérebro (veja foto à esq.)
No teste, partes específicas do córtex pré-frontal -área cerebral envolvida no controle de ações complexas e iniciativas- apareciam "ligadas" ao mesmo tempo em a atividade de partes do córtex visual -o "processador de imagens" do cérebro- diminuía. Momentos mais tarde, o hipocampo -estrutura importante para formação de memórias- e a amígdala -envolvida em emoções- também tinham queda de atividade.
Segundo os autores do trabalho, essa descoberta de ciência básica ainda está longe de poder ser traduzida em algo útil em consultórios de psicólogos.
"Minha previsão é que não será fácil suprimir coisas [lembranças] antigas e que envolvam emoções pessoais", diz Depue, que vê dificuldades para aplicar seu estudo. "Pode ser que pessoas com distúrbios de memória tenham de ganhar algum controle sobre a representação de uma memória ao lembrar dela e experimentar uma diferente reação emocional à memória antes de suprimi-la."


Com Reutes


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