São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006 |
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Tecnociência pura
Tim Berners- Lee e colegas querem criar ciência da web, que abarcaria diversas disciplinas MARIANA TAMARI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A world wide web, mais conhecida como www, é o modo gráfico da Internet, e representa apenas uma parte da rede, sem dúvida a mais evidente, que assegurou o seu sucesso imediato. Ela foi um presente para a humanidade do físico britânico Tim Berners-Lee, que a inventou e abriu mão da patente e, provavelmente, de infindáveis milhões (talvez até bilhões) de dólares. Não fosse esse modo gráfico, ou fosse ele proprietário, a internet, sem dúvida, não chegaria a tantos milhões. É fato que a web é uma realidade em expansão. Para entendê-la e dar suporte a seu crescimento, tanto no campo da engenharia quanto em termos sociais, Berners-Lee e outros pesquisadores do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e das Universidades de Southampton e de Maryland sugerem a criação de uma nova vertente científica interdisciplinar, a ciência da web. Em artigo publicado na última edição da revista "Science" (www.sciencemag.org), os pesquisadores defendem que desde seu surgimento a web alterou a maneira como os cientistas se comunicam, colaboram uns com os outros e como transferem seu conhecimento. Com a proposta de criar a ciência da web, os cientistas estão produzindo um foco de atenção e de análise para o estudo das redes. Eles propõem o estudo do fenômeno a partir da complexidade de sua interface. "Se queremos entender os princípios da arquitetura da web que foram responsáveis por seu crescimento e se queremos ter certeza de que ela apóia os valores sociais básicos de segurança, confiabilidade, privacidade e respeito aos limites sociais, então precisamos pautar uma agenda que tenha a web como foco primário de atenção", diz o artigo. Berners-Lee e seus colegas usam o termo ciência em dois sentidos. O primeiro é o da ciência física e biológica, que analisa o mundo natural e tenta encontrar para ele leis macroscópicas. O segundo é o da ciência da computação, que é principalmente sintético, pois preocupa-se com a construção de linguagens e algoritmos para produzir comportamentos computacionais. Ou seja, para os pesquisadores, a web é um espaço elaborado com a engenharia e criado através de linguagens e protocolos formais e específicos. Contudo são os humanos os criadores de suas páginas e links. E as interações humanas, por sua vez, são regidas por normas sociais e leis. "A ciência da web, portanto, deve ser interdisciplinar", afirmam eles. Ciência interdisciplinar Para o sociólogo brasileiro Sérgio Amadeu da Silveira, que estuda a sociedade da informação, a proposta de Tim Berners-Lee e seus colegas pode acabar seguindo a trajetória da ecologia, que se firmou como campo científico. Segundo o pesquisador, o seu surgimento e evolução foi tornando-se fundamental quanto mais a humanidade descobria que sua ação exploratória desmedida criava impactos em cada microcomponente do planeta, inclusive no próprio homem. "Acredito que o estudo focalizado no fenômeno das redes pode ser útil quanto mais a sociedade incorpore a comunicação mediada por computador em seu cotidiano. Assim como a ecologia nasceu da biologia e depois tornou-se mais abrangente que ela, acho possível uma ciência da web, que partindo das ciências da computação avance para incorporar outras formas de olhar e analisar mais amplas e advindas de outros campos do conhecimento." Semântica da web Dentro da idéia de criação desse novo ramo científico está também o desenvolvimento da semântica da web, que consiste em produzir tecnologias que permitem o cruzamento de informações armazenadas de maneiras distintas na web com maior facilidade, independentemente do tipo de programa em que elas estejam guardadas. Os pesquisadores concluem afirmando que a ciência da web trataria de trabalhar com novas engenharias e infra-estruturas de protocolos e de compreender a sociedade que os utiliza, abarcando a criação de sistemas novos e benéficos. Segundo o artigo, essa ciência da web deve possuir seu próprio ethos: descentralização para evitar gargalos técnicos e sociais e abertura para garantir a fluência de informações de maneiras inovadoras e justas. Ela deve utilizar poderosas técnicas científicas e matemáticas ligadas a muitas disciplinas e deve considerar as propriedades micro e macroscópicas da web e a relação que existe entre elas. Próximo Texto: Marcelo Gleiser: A nova sopa cósmica Índice |
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