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"Cidadãos-cientistas" acham estrela rara
Computadores de 250 mil voluntários de 192 países peneiraram dados astronômicos e flagraram um pulsar
Astro, que é formado
por nêutrons, emite
pulsos regulares de
radiação; basta instalar
programa para ajudar
LUCIANO GRÜDTNER BURATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Foi nos computadores de
um alemão e de um casal
americano que o sinal das
ondas de rádio emergiu mais
forte. Sem nenhum treinamento em astronomia, acharam um raro objeto celeste.
Os três fazem parte do projeto Einstein@Home ("Einstein em casa"), uma comunidade global de mais de 250
mil voluntários que permitem o uso de seus computadores para o processamento
de dados astronômicos.
Criado em 2005 para encontrar ondas gravitacionais, previstas pela teoria da
relatividade geral de Albert
Einstein (1879-1955), o projeto incluiu, em 2009, a busca
por pulsares, estrelas densas, formadas por nêutrons,
que giram rapidamente e
emitem radiação em lados
opostos, como um farol.
O pulsar descoberto, batizado de PSR J2007+2722,
completa 41 voltas por segundo sobre seu eixo e está a
17 mil anos-luz da Terra, na
constelação da Raposa.
Trata-se de um objeto curioso. Os raros pulsares já observados costumam surgir
em pares. O fato de estar sozinho é, por si só, intrigante. E,
para um pulsar isolado, ele
gira mais rápido que o usual.
"Ou é uma estrela velha
que expulsou sua companheira, o que explicaria seu
isolamento, ou é uma estrela
jovem, o que explicaria a rapidez do giro. Mas, nesse caso, deveria haver vestígios de
supernova [explosão estelar]
por perto", diz Zulema Abraham, professora de astronomia do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.
As ondas de rádio emitidas
pelo pulsar foram detectadas
pelo Telescópio de Arecibo,
localizado em Porto Rico. Para isolar o sinal do ruído espacial, foi preciso descobrir a
frequência exata do pulsar.
Isso envolveu tentativa e erro. E é aí que entra o poder da
computação distribuída.
No Einstein@Home, servidores na Universidade Cornell, nos EUA, enviam os dados de Arecibo para o Instituto Albert Einstein, na Alemanha, que os "quebra" em pacotes e os distribuem aos voluntários pelo mundo. Os resultados dos voluntários são
reenviados à Alemanha.
Para participar, basta baixar um programa e instalá-lo
no computador. O programa
funciona como um protetor
de tela -só processa dados
quando o usuário não está
usando o computador.
"Mostramos que qualquer
um que possui um computador e acesso à internet pode
fazer a diferença e contribuir
para descobertas de astronomia", afirmou Benjamin
Knispel, do Instituto Albert
Einstein e coautor do estudo,
publicado na edição de hoje
da revista "Science".
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