São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2010

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"Cidadãos-cientistas" acham estrela rara

Computadores de 250 mil voluntários de 192 países peneiraram dados astronômicos e flagraram um pulsar

Astro, que é formado por nêutrons, emite pulsos regulares de radiação; basta instalar programa para ajudar


LUCIANO GRÜDTNER BURATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Foi nos computadores de um alemão e de um casal americano que o sinal das ondas de rádio emergiu mais forte. Sem nenhum treinamento em astronomia, acharam um raro objeto celeste.
Os três fazem parte do projeto Einstein@Home ("Einstein em casa"), uma comunidade global de mais de 250 mil voluntários que permitem o uso de seus computadores para o processamento de dados astronômicos.
Criado em 2005 para encontrar ondas gravitacionais, previstas pela teoria da relatividade geral de Albert Einstein (1879-1955), o projeto incluiu, em 2009, a busca por pulsares, estrelas densas, formadas por nêutrons, que giram rapidamente e emitem radiação em lados opostos, como um farol.
O pulsar descoberto, batizado de PSR J2007+2722, completa 41 voltas por segundo sobre seu eixo e está a 17 mil anos-luz da Terra, na constelação da Raposa.
Trata-se de um objeto curioso. Os raros pulsares já observados costumam surgir em pares. O fato de estar sozinho é, por si só, intrigante. E, para um pulsar isolado, ele gira mais rápido que o usual.
"Ou é uma estrela velha que expulsou sua companheira, o que explicaria seu isolamento, ou é uma estrela jovem, o que explicaria a rapidez do giro. Mas, nesse caso, deveria haver vestígios de supernova [explosão estelar] por perto", diz Zulema Abraham, professora de astronomia do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas) da USP.
As ondas de rádio emitidas pelo pulsar foram detectadas pelo Telescópio de Arecibo, localizado em Porto Rico. Para isolar o sinal do ruído espacial, foi preciso descobrir a frequência exata do pulsar. Isso envolveu tentativa e erro. E é aí que entra o poder da computação distribuída.
No Einstein@Home, servidores na Universidade Cornell, nos EUA, enviam os dados de Arecibo para o Instituto Albert Einstein, na Alemanha, que os "quebra" em pacotes e os distribuem aos voluntários pelo mundo. Os resultados dos voluntários são reenviados à Alemanha.
Para participar, basta baixar um programa e instalá-lo no computador. O programa funciona como um protetor de tela -só processa dados quando o usuário não está usando o computador.
"Mostramos que qualquer um que possui um computador e acesso à internet pode fazer a diferença e contribuir para descobertas de astronomia", afirmou Benjamin Knispel, do Instituto Albert Einstein e coautor do estudo, publicado na edição de hoje da revista "Science".


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