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São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

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MEDICINA

Técnica poderia ajudar mulheres que tiveram câncer de ovário ou que estão na menopausa a ter filhos no futuro

Operação restaura fertilidade em macaca

MAXINE FRITH
DO "INDEPENDENT"

O mais importante avanço no tratamento da infertilidade feminina em décadas foi anunciado por cientistas ontem, com a conclusão de um experimento, em animais, capaz de reverter as consequências da menopausa e permitir que o período fértil seja prolongado quase indefinidamente.
Pesquisadores nos EUA revelaram que tiveram sucesso ao transplantar tecido de ovário em uma fêmea de macaco reso. O tecido deu origem a óvulos maduros, que foram extraídos e fertilizados em laboratório. Os embriões resultantes foram reimplantados no útero, culminando no nascimento de uma fêmea saudável.
Embora transplantes de ovário com posterior nascimento já tenham sido conduzidos antes em ratos e ovelhas, essa é a primeira vez que o procedimento é feito com uma espécie tão próxima do ser humano. Acredita-se que os resultados, a serem publicados numa revista médica no mês que vem, possam levar a feitos similares em mulheres em dez anos.
O avanço dá esperanças a jovens que sofreram de câncer de ovário e foram deixadas inférteis por radioterapia. Também significa que mulheres no início da menopausa poderiam ter tecido ovariano saudável removido, para ser preservado e reimplantado quando quisessem ter um filho.
"Esse procedimento tem utilidade para preservar o potencial reprodutivo de sobreviventes de câncer e tratar menopausa, sugerindo que bancos de tecidos ovarianos em humanos possam ser concebíveis", disse David Lee, que liderou a pesquisa no Centro de Pesquisa Nacional de Primatas do Oregon, nos EUA.
O avanço levanta sérias questões sobre a ética de permitir que mulheres que já passaram pela menopausa tenham bebês.
No momento, mulheres que desenvolvem câncer e estão correndo risco de se tornar estéreis podem ter seus óvulos removidos e guardados para uso futuro.
Mas há restrições sobre isso e óvulos mais antigos têm menos chance de resultar numa gravidez bem-sucedida. O novo sucesso significa que tecidos ovarianos saudáveis podem ser preservados quase indefinidamente e novos óvulos podem ser obtidos quando quer que se faça o transplante.
Jack Scarisbrick, líder da ONG Life, disse: "Isso é trapacear a natureza. Além dos efeitos desse experimento num macaco, é mais um exemplo de como a procriação humana está sendo transformada num procedimento conduzido num laboratório, quando a natureza ditou que a fertilidade não era possível".
Para muitas mulheres, entretanto, esse procedimento removeria o trauma de perder sua fertilidade antes de atingirem a fase em que gostariam de ter filhos.
O anúncio do sucesso experimental foi feito na abertura da Conferência Anual da Sociedade Americana para Medicina Reprodutiva, no Texas (EUA).


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