|
Próximo Texto | Índice
BIOLOGIA
Evento é mais comum do que se achava; resultados foram obtidos com os projetos genoma
Duplicação de genes ajuda evolução
ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCAL
Os biólogos sempre tiveram dificuldade em determinar com que
frequência a duplicação de genes
-fonte de variação genética e razão do maior jogo de cintura de
algumas espécies- acontece.
Dois cientistas da Universidade
de Oregon (EUA) encontraram
indícios de que ela é muito mais
comum do que se achava.
Michael Lynch e John Conery
usaram os dados de sequenciamento do genoma de várias espécies -homem, camundongo,
mosca-das-frutas, um verme, arroz, levedura- para encontrar os
genes duplicados. O estudo foi
publicado na última edição da
"Science" (www.sciencemag.org).
"Até a conclusão dos primeiros
genomas, não havia à disposição
dos cientistas um número de genes suficiente para que se pudesse
estudar o evento de duplicação.
Nossas possibilidades eram bastante limitadas", disse à Folha
John Conery, responsável pela
análise computacional dos dados.
Os pesquisadores descobriram
que os genes duplicados surgem a
uma taxa de 0,01 por gene por milhão de anos. Isso significa que
50% dos genes num genoma serão duplicados pelo menos uma
vez no intervalo de 35 milhões a
350 milhões de anos (homens e
chimpanzés divergiram entre 5 e
4 milhões de anos atrás).
As taxas de duplicação são semelhantes mesmo entre espécies
tão diferentes quanto a mosca-das-frutas e a levedura. Segundo
os autores, um genoma constituído de 15 mil genes pode adquirir
de 60 a 600 genes duplicados no
período de 1 milhão de anos.
Crescimento do genoma
Há cerca de 30 anos, o geneticista Susumo Ohno propôs que os
genomas cresciam e se diversificavam por meio da duplicação de
genes. Quando, por algum problema na replicação do DNA, um
gene ou pedaço de cromossomo é
copiado, a cópia extra pode passar a exercer alguma nova função,
aumentando o repertório gênico
daquele organismo.
Em mamíferos, as globinas -ligadas ao transporte de oxigênio- correspondem a um dos
grupos de genes que surgiram
após um evento de duplicação e
divergência de função. Enquanto
as mioglobinas são responsáveis
pelo armazenamento do oxigênio
nos músculos, as hemoglobinas
fazem seu transporte no sangue.
"Em princípio, existem três caminhos que as duplas de genes
podem seguir", explica Conery.
"Elas podem manter a função original, aumentando a capacidade
do organismo de produzir determinada proteína; um dos genes
pode sofrer mutações que o deixarão inutilizado; ou, o mais importante, o novo gene pode ser
modificado a tal ponto que adquire uma nova função".
É desse último caminho que
surge a variabilidade genética,
que contribui com novas características para o organismo, tornando-o mais apto para enfrentar situações adversas do ambiente.
A duplicação não é o único fator
responsável pela variabilidade de
um ser vivo. As mutações e as recombinações entre genes estão
entre as principais causas de variação genética.
O que esse estudo sugere é que a
duplicação dos genes também pode exercer um papel central na
evolução de novos atributos. "Se a
duplicação for tão frequente como os dados de Lynch e Conery
indicam, então, realmente precisaremos levá-la em conta como
importante fonte de variação genética", diz Andreas Wagner, da
Universidade do Novo México.
Próximo Texto: Espaço: Poeira espacial pode danificar satélites Índice
|