São Paulo, sexta-feira, 13 de novembro de 2009

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Derretimento da Groenlândia se acelera

Água que escapou da segunda maior massa de gelo do mundo nos últimos nove anos encheria 450 lagos de Itaipu

Velocidade do degelo na ilha aumenta desde 2006; conclusão saiu de estudo que usou dados de satélite e medições feitas em terra


Steve Morgan
Pesquisadores observam a parte frontal do geleira Helheim, na Groenlândia

RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

O degelo está se acelerando na segunda maior massa de gelo do mundo, a Groenlândia, que nos últimos nove anos perdeu 1,5 trilhão de toneladas de água- o suficiente elevar o nível do mar em mais de 4 milímetros. O número é apontado em um estudo publicado na edição de hoje da revista "Science", liderado por Eric Rignot, geocientista da Nasa.
"Nenhuma notícia boa por aqui. Sinto muito", disse o cientista em entrevista à Folha. Segundo ele, a aceleração do derretimento se verifica desde 2006 em um nível sem precedentes. Isso pode ser apenas uma oscilação normal -em alguns anos o gelo derrete mais, em outros menos. Mas, se for uma tendência, trata-se de mais um sinal de que o planeta está esquentando rápido.
Jefferson Simões, glaciologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, diz que não se trata de mero acaso. "É preciso ver que esse não é um estudo isolado, existem várias outras evidências científicas, tudo vai se somando."
Os números, de qualquer forma, impressionam. Nesta década, as regiões que mais derreteram, aquelas próximas ao oceano, chegaram a perder mais de uma tonelada de água -uma caixa d'água cheia- por metro quadrado por ano.
Outro dado novo é sobre o destino do gelo perdido. Cerca de metade dele se transforma em icebergs, perdendo contato com a Groenlândia. A outra metade se torna lagos de água líquida sobre a superfície de gelo, dizem os cientistas.
Além de servir como sinal de aquecimento, o derretimento do gelo tem uma consequência imediata a elevação do nível dos mares e, com isso, o alagamento de regiões litorâneas.
Se a Groenlândia derretesse por completo, os oceanos subiriam sete metros -uma catástrofe global para áreas costeiras. Nem os pesquisadores mais pessimistas, entretanto, acreditam que isso acontecerá.
O estudo na "Science" pode forçar uma revisão das previsões de 2007 do painel do clima da ONU (o IPCC) sobre o assunto, dizem os cientistas.
Estimava-se que os mares, na pior das piores hipóteses, subiriam no máximo 58 centímetros até 2100. "Levando em conta o novo cenário, eu diria que existe uma real possibilidade de ultrapassarmos esse valor", diz Jonathan Bamber, físico da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e um dos coautores do estudo.
"O valor da ONU é muito pequeno. Infelizmente, o gelo está derretendo rápido. Eu estou preocupado", diz Rignot.

Falta a Antártida
Para ter certeza que não estavam cometendo erros, os cientistas utilizaram dois métodos diferentes. Um deles usou dados obtidos em solo, outro, via satélite, e os resultados estavam de acordo um com outro.
Para saber com precisão o que vai acontecer com o planeta no futuro, será necessário fazer algo similar com a Antártida. Apesar de o continente gelado ter 90% do gelo mundial -e, portanto, ser muito mais decisivo do que a Groenlândia-, sabe-se relativamente pouco sobre o degelo por lá.
Ainda não existe para a Antártida um estudo como este que sai agora na "Science", diz Simões. "É o único local onde ainda não está clara a situação, ela é a grande incógnita."
Os cientistas sabem que a Antártida está passando por um aumento de temperatura e que vem perdendo gelo. Mas ainda é difícil quantificar.
"Sabemos que a região mais central e alta está tranquila, estável, se alguém falar que está mudando é bobagem. O nosso receio é que os derretimentos que estão ocorrendo no norte da península Antártica se espalhem", diz Simões.


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