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Grupo desvenda mistério dos repelentes de insetos
Princípio ativo desses produtos age no olfato dos animais e mascara cheiro dos humanos
Criado logo após 2ª Guerra,
composto chamado DETT
não tinha ação conhecida;
pesquisa pode conduzir a
novas armas contra malária
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O repelente de insetos mais
usado no mundo só agora revelou seu segredo. Criado pelo
exército dos EUA logo depois
da 2ª Guerra Mundial e integrando hoje a maioria dos repelentes comerciais, o DEET
mascara o odor humano para o
inseto. Uma equipe de pesquisadores na Universidade Rockefeller mostrou agora o alvo
molecular do princípio ativo
usado em marcas conhecidas
como Autan, Off e Repelex.
O DEET (abreviatura de
N,N-dietil-meta-toluamida ou
N,N-dietil-3-metilbenzamida)
é eficaz contra uma grande variedade de insetos que se alimentam de sangue humano.
Mas ele não é recomendável
para uso em crianças pequenas,
nem em mulheres grávidas. E
os produtos mais eficientes,
com grandes concentrações
-entre 30% a 50% de DEET-,
não devem ser usados em
crianças de até 12 anos.
Como lembram os autores do
estudo, só a malária afeta 500
milhões de pessoas, causando
cerca de um milhão de mortos
todo ano -e boa parte deles são
crianças africanas.
"Repelentes de inseto eficazes são uma arma importante
contra insetos vetores de doenças. O resultado prático imediato da nossa pesquisa é que
nós agora podemos prosseguir
com planos para gerar mais repelentes de insetos eficazes",
disse à Folha, por e-mail, a líder do trabalho, a pesquisadora
Leslie B. Vosshall.
"Esforços anteriores para
aperfeiçoar o DEET não deram
certo devido à ausência de conhecimento sobre como ele
funciona. Agora que nós sabemos quais receptores de odor
dos insetos são os alvos moleculares do DEET, nós podemos
fazer a seleção química de milhares de novos compostos para tentar achar um novo repelente que funcione melhor e
com mais segurança que o
DEET", afirma Vosshall.
Os insetos são atraídos pelas
"emanações" do ser humano
-tanto o gás carbônico exalado
na respiração quanto substâncias voláteis presentes no suor,
como o ácido lático. Um repelente à base de DEET mostrou
ter efeito contra mosquitos a
até 38 centímetros da pele.
Vosshall e seus colaboradores, Mathias Ditzen e Maurizio
Pellegrino, fizeram experimentos com o comportamento de
uma espécie de mosquito
transmissor da malária, o Anopheles gambiae, e com as moscas-da-fruta drosófilas (Drosophila melanogster), além de
testarem também as respostas
eletrofisiológicas de neurônios
sensoriais olfatórios nas antenas dos insetos.
Os resultados mostraram
que o DEET bloqueia nos dois
insetos as respostas desses
neurônios a odores normalmente atraentes.
No caso da drosófila, foi
constado também que o receptor -a proteína olfatória
OR83b- era essencial para a
existência do bloqueio pelo repelente. Moscas mutantes sem
OR83b não eram sensibilizadas
pelo DEET, apesar de ainda
conseguirem chegar até a comida (por ainda terem outros
neurônios funcionais).
"Doenças transmitidas por
insetos são complicadas, não
há uma estratégia única capaz
de ser bem sucedida. Eu acho
que trabalhos paralelos em repelentes de insetos, combinados com desenvolvimento de
vacina e controle de população
de insetos, podem trabalhar
juntos para propiciar um efeito
maior do que uma estratégia
única", afirma a pesquisadora
da Universidade Rockefeller.
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