São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007

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País põe missões tripuladas na geladeira

Um ano após vôo de astronauta brasileiro, agência espacial diz não ter pressa para negociar acordo da ISS com os EUA

Segundo chefe da agência brasileira, foguete nacional e acordo com a Ucrânia para uso da base no Maranhão são prioridades imediatas

Jamil Bittar - 31.mar.2007/Reuters
Marcos Pontes espera vôo atrasado no aeroporto de Brasília


RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao pagar US$ 10 milhões pelo vôo do astronauta Marcos Cesar Pontes à ISS (Estação Espacial Internacional), um ano atrás, o Brasil deu um pequeno passo para vôos espaciais tripulados. Um passo que poderá ser o único, se depender das prioridades atuais da AEB (Agência Espacial Brasileira) .
"A primeira ida à ISS foi um passo, mas uma segunda ida vai depender muito do programa da estação" disse à Folha o presidente da AEB, Sergio Gaudenzi. Para que um astronauta brasileiro possa ir ao espaço uma segunda vez, o país depende tanto de uma aceleração do programa tripulado norte-americano quanto de o Brasil entregar as peças que ficou devendo para a ISS. Mas as duas coisas parecem difíceis.
Mesmo após ter reduzido a um décimo sua cota financeira no projeto da ISS, o Brasil hesita em dar prosseguimento à parceria. Aquilo que seria um investimento de US$ 120 milhões deve ficar na produção de uma peça de US$ 12 milhões para a ISS, que demora a sair.
O equipamento brasileiro -uma espécie de prateleira espacial para auxiliar operações externas na estação- já começou a ser fabricado pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Uma equipe especializada em mecânica de precisão concluiu no ano passado um protótipo da peça, feito de resina. O próximo passo seria fazer um protótipo de metal e então iniciar o processo de certificação da peça, mas os trabalhos estão congelados.
O modelo de resina foi apresentado à imprensa durante o retorno de Pontes à Terra e ao Brasil, em abril de 2006, mas desde então o Senai aguarda orientações da AEB para continuar o projeto.
A AEB, por sua vez, aguarda uma definição dos parceiros americanos. "Nós não estamos tendo muita pressa na negociação porque ela é difícil e longa", diz Gaudenzi. "Tínhamos uma reunião com a Nasa marcada agora para o início do ano, mas ela foi adiada."
A Folha procurou Pontes ontem para comentar o problema, mas não o encontrou até o fechamento desta edição. Em seu blog, ele tem se declarado esperançoso sobre a possibilidade de uma nova viagem. "Continuo à disposição do país, em Houston e no Brasil, como astronauta para uma possível missão espacial", escreveu.
Para Gaudenzi, porém, a perspectiva não é próxima. "Claro que o Marcos tem esperança de fazer um segundo vôo, mas nós não podemos assegurar, porque a fila é enorme", diz. "O programa da estação sofreu um golpe duro quando as naves americanas deixaram de ir para lá, e com isso a fila para [o Brasil] fazer um segundo vôo cresceu." Após a explosão do ônibus espacial Columbia, em 2003, as viagens à ISS têm sido duas por ano, em média.
Se o aprimoramento de astronautas brasileiros está parado, porém, a AEB parece ter retomado o passo na área de lançamentos de foguetes, que ainda se recupera dos danos tecnológicos e humanos sofridos com a explosão do VLS (Veículo Lançador de Satélites) também em 2003. Dentro de três anos, o Brasil deve tentar um novo lançamento completo do VLS (depois de fazer dois lançamentos teste), diz Gaudenzi.
Dentro de algumas semanas também deve ser inaugurada a empresa binacional Alcântara Cyclone Space, que venderá serviços de lançamento de satélites usando foguetes ucranianos partindo da base de Alcântara, no Maranhão. O primeiro cliente poderá ser a própria AEB, que quer colocar em órbita até 2011 o satélite de observação Amazônia-1.


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