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Vulcão provocou inverno devastador do ano 1600
Estudo liga única erupção a safras ruins, fome e neve recorde no mundo inteiro
Partículas lançadas pelo Huaynaputina, no Peru, desencadearam a pior onda
de frio em seis séculos em todo o planeta, diz cientista
DA REPORTAGEM LOCAL
Cientistas já sabem há algum
tempo que grandes erupções
vulcânicas têm o efeito de resfriar a Terra ao encher a atmosfera de partículas com enxofre.
Um estudo publicado agora por
geólogos da Universidade da
Califórnia em Davis, porém,
mostra a que ponto pode chegar essa influência sobre o clima. Estudando eventos que se
seguiram à erupção do vulcão
Huaynaputina, no sul do Peru,
em 1600, os cientistas mostraram que ela deve ter sido a causa de um inverno recorde em
um período de seis séculos.
A descoberta foi apresentada
pelos geólogos Kenneth Verosub e Jake Lippman em um trabalho publicado na última edição da revista "EOS", da União
Geofísica dos EUA. Depois de
passar três anos fazendo trabalho de historiadores, a dupla
conseguiu descobrir uma série
de eventos datados de 1601 nos
EUA, na Europa e na Ásia que
provavelmente estão ligados ao
resfriamento global causado
pelo vulcão peruano.
"Na Rússia, o inverno de
1601/1602 foi severo, e acredita-se que mais de 500 mil pessoas tenham morrido entre
1601 e 1603 naquela que foi
considerada a pior onda de fome na história russa", escrevem os geólogos. "Na França, a
data de início da colheita dos vinhedos em 1601 está entre as
sete mais atrasadas no período
entre 1500 e 1700."
Diversas outras anomalias
causadas pelo frio fora do comum -como nevascas recorde
e vento excessivo- foram registradas no mundo inteiro naquele ano também na Suécia,
no Japão, nas Filipinas, na Suíça, na China, no Japão, na Estônia e na Lituânia.
Os geólogos americanos afirmam que a descoberta foi uma
espécie de "ato de fé", já que
poucos especialistas em clima
esperavam que se pudesse obter tantos dados sobre a época
estudada. Os geólogos-historiadores, porém, sabiam que não
era bem assim.
"Em 1600, a Renascença havia transformado a sociedade
européia, e muitas pessoas na
Europa estavam fazendo e registrando observações sobre o
mundo ao seu redor, inclusive
sobre o tempo e o clima", escrevem Verosub e Lippman. "No
Japão e na China, sistemas imperiais vigentes fortemente burocráticos vigentes produziram
numerosos registros escritos."
Aquecimento global
Os geólogos americanos começaram a estudar a erupção
do Huaynaputina para compará-la à outro registro recorde: a
explosão do vulcão Tambora
em 1815, na Indonésia, que era
mais bem documentada, que
também revela muito sobre o
quanto um vulcão pode causar
anomalias climáticas.
Verosub e Lippman afirmam, por exemplo, que o inverno rigoroso na Rússia de 1601
normalmente é atribuído à
chamada Pequena Era do Gelo,
uma tendência longa de resfriamento registrada na Idade Média. Provavelmente é um erro, e
o culpado foi mesmo a erupção
do vulcão peruano, dizem.
Os geólogos americanos também afirmam que outra contribuição de seu trabalho é mostrar como o estudo de médias
climáticas em um passado distante pode conter ruído -informação que atrapalha a medida de tendências.
"O problema se torna especialmente severo quando o objetivo da pesquisa é demonstrar mudança climática no longo prazo (ou seja, o "aquecimento global antropogênico"
[causado pelo homem])", afirmam os pesquisadores.
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