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Brasil compra novo supercomputador para prever o clima
Máquina de R$ 31,3 milhões que será instalada no Inpe é a 16ª mais rápida do mundo e refinará também meteorologia
País deve produzir em 2,5 anos modelo climático nos
moldes dos usados pelo IPCC; ministro critica defesa
civil por desastres em RJ e SC
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Um dos 20 computadores
mais rápidos do mundo acaba
de ser adquirido pelo Brasil. A
partir do fim do ano, a máquina
de R$ 31,3 milhões começa a rodar no Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais), em
São José dos Campos, adiantou
à Folha o ministro da Ciência e
Tecnologia, Sergio Rezende
O supercomputador, que receberá um nome em tupi, seguindo a tradição do Inpe, deve
melhorar significativamente a
previsão do tempo em um país
onde meteorologia é cada vez
mais uma questão de vida ou
morte -vide a tragédia da última semana no Rio de Janeiro.
Mas também colocará o Brasil no seleto grupo de nações
capazes de prever não apenas o
tempo, com dois ou três dias de
antecedência, mas também o
clima, ao longo do século. Uma
de suas funções primordiais será rodar modelos de circulação
global como os usados pelo
IPCC (o painel do clima das
Nações Unidas), para avaliar as
mudanças climáticas.
O sistema foi comprado pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia e pela Fapesp (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) da empresa
Cray. Seu desempenho máximo é de 244 teraflops, ou trilhões de operações por segundo (medida padrão dessas máquinas). Só EUA, Rússia, China e Alemanha têm máquinas
mais rápidas hoje. "É muito
flop!", brinca Rezende.
Só o sistema de refrigeração
da máquina custou R$ 2,9 milhões. Para alimentá-la, o Inpe
precisará construir uma nova
central elétrica, de 1.000 quilowatts. Hoje só há 280 quilowatts disponíveis no instituto.
O coordenador da Rede Nacional de Mudanças Climáticas, Carlos Nobre, compara:
"Quando o Inpe recebeu seu
último supercomputador, estávamos entre os 25 mais rápidos
do mundo em aplicações de
mudanças climáticas. Agora,
estamos entre os três ou quatro
mais rápidos nessa área."
Com essa capacidade, estima
Nobre, o Brasil poderá em dois
anos e meio produzir seu primeiro modelo de circulação
global. Atualmente, o IPCC baseia seus cenários em menos de
15 modelos desses -todos feitos em países desenvolvidos.
"Nosso interesse é um modelo
que olhe melhor para a Amazônia e para o Atlântico Sul", diz o
diretor científico da Fapesp,
Carlos Henrique de Brito Cruz.
Isso poderá, por exemplo,
ajudar a determinar se eventos
extremos como a chuva do Rio
neste mês ficarão mais frequentes no decorrer do século,
à medida que o aquecimento
global afete mais a floresta e o
oceano -duas das chaves mestras do clima no Brasil. Hoje, o
principal obstáculo ao desenvolvimento desses modelos é
capacidade computacional.
O computador também deve
ajudar a solucionar um dos gargalos da previsão do tempo no
país: a resolução dos modelos.
Com o supercomputador
que o Inpe tem hoje, é possível
fazer previsões com dois a três
dias de antecedência, de hora
em hora, para áreas de 40 km
por 40 km. Isso permite previsões razoáveis -o Inpe alertou,
que cairia uma chuva de 70 milímetros no Rio, algo extremo
para o mês de abril-, mas
"míopes": não dá para saber,
por exemplo, se em Niterói vai
cair dez vezes mais água do que
em uma área a 20 km dali.
Para fazer previsões mais
apuradas, em áreas de 5 km por
5 km, o Inpe hoje gasta dois
dias rodando o modelo no computador. "Você não prevê tão
bem o desastre de verdade", diz
Haroldo Velho, pesquisador do
instituto. "Agora, vamos conseguir gerar 5 km em uma hora."
Nem só ciência
Rezende comemora a turbinada computacional, mas lembra que só isso não vai salvar vidas. "É claro que a ciência e tecnologia podem ser melhores;
precisamos integrar radares
meteorológicos, por exemplo.
Mas o problema no Brasil é que
os sistemas municipais de alerta quase não existem, os sistemas de defesa civil são desorganizados." O ministro continua:
"A previsão do evento em Santa
Catarina foi feita com três dias
de antecedência. Se houvesse
uma preocupação com essa
questão, as pessoas teriam saído das áreas mais problemáticas, o que não aconteceu".
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