São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2008

Próximo Texto | Índice

UFRJ busca tira-manchas perfeito

Químicos testam compostos ecológicos para uso em escala industrial na indústria têxtil e de papel

Pesquisadora que voltou à universidade após deixar a indústria química tenta criar produto mais eficaz que não deixe resíduos em excesso

20.mar.2000/France Presse
Indiano mancha roupas e rosto para festival folclórico hindu

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

As manchas vermelhas são as mais temidas de quem usa toalha, lenço ou guardanapo brancos -venham elas de vinho tinto, molho de tomate ou frutas vermelhas como o morango, sem falar de sangue ou batom. Uma pesquisadora da UFRJ está pesquisando um meio mais eficaz para eliminar boa parte dessas manchas comprometedoras -aquelas causadas por alimentos contendo substâncias chamadas fenóis.
A pesquisa pode trazer também um avanço ambiental, ajudando a reduzir os dejetos industriais originários de processos de branqueamento.
"Já tenho três ou quatro compostos sintetizados, faltam agora os testes de atividade", diz Marciela Scarpellini, do Laboratório de Desenvolvimento de Compostos Bioinorgânicos, do Departamento de Química Inorgânica do Instituto de Química da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
"Branquear" em geral exige o uso de peróxido de hidrogênio -substância mais conhecida como água oxigenada. "Os processos de branqueamento que a envolvem estão entre os mais importantes processos de oxidação do ponto de vista econômico e são amplamente empregados pelas indústrias de papel e celulose, têxteis e de detergentes", diz Scarpellini.
O segredo do trabalho é buscar os catalisadores -substâncias que promovem reações químicas sem participar diretamente delas- mais adequados.
Catalisadores que contém metais como ferro e manganês, que são abundantes na crosta terrestre e não são muito tóxicos, tendem a ser ambientalmente mais "amigáveis".
O problema, hoje, é que as tecnologias são pouco eficazes à temperatura ambiente, e os compostos com esses elementos têm de ser usados em altas doses a temperaturas elevadas.
Os compostos desse metais em estudo na UFRJ, em princípio, também tem a vantagem de poderem ser reutilizados.
A equipe, formada por Scarpellini e duas alunas de mestrado, Elisabeth Teixeira de Souza e Luciana Rios Martins, espera agora a chegada de novos equipamentos para prosseguir com os testes. O objetivo é usar "substratos-modelo" contendo fenóis para estudar a ação dos catalisadores.

Limpeza sem sigilo
A vontade de estudar essas alternativas surgiu quando a pesquisadora da UFRJ fazia um pós-doutorado na Universidade de Michigan, trabalhando com manganês. A empresa multinacional Unilever tinha contratado o laboratório onde ela estava para desenvolver esses novos compostos.
Quando o contrato foi finalizado, ela voltou ao Brasil para recomeçar a empreitada. Apesar de não poder mais ter acesso ao trabalho dos colegas americanos, por causa de sigilo industrial, ela decidiu inaugurar a linha de pesquisa na UFRJ.
Os compostos fenóis do vinho e do morango é que geram a cor vermelha e "quebrar estruturas polifenóicas, para que isso fique solúvel em água, não é trivial", declara Scarpellini.
Ela lembra o caso de um popular tira-manchas, da marca Vanish, que usa como elemento ativo o percarbonato de sódio. Para atacar uma molécula de fenol, é preciso uma do percarbonato. Quando algo semelhante é feito em escala industrial, a quantidade de dejetos é muito grande.
Por isso a intenção dos pesquisadores agora é buscar catalisadores que possam ser usados em menores quantidades e sejam reutilizáveis -capazes, por exemplo, de usarem uma molécula para quebrar 500.
Havendo eficácia dos catalisadores propostos, eles serão enviados a um laboratório da Unilever na Holanda para serem testados na remoção de manchas em tecidos. Se for possível a utilização em novas formulações de detergentes, a patente do produto será registrada para a UFRJ.


Próximo Texto: Células-tronco: Clínicas terão de registrar novos embriões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.