São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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Com atraso, foguete deve partir hoje de Alcântara

Vôo que carrega experimentos sobre falta de gravidade já foi adiado três vezes

Lançamento de um modelo VSB-30 é o segundo desde o acidente que matou 21 em 2003; mau tempo atrasa a operação desde quarta-feira

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A ALCÂNTARA

Com três dias de atraso, deve ser lançado hoje o foguete brasileiro VSB-30 no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. O vôo vem sendo adiado diariamente desde quarta-feira por causa do mau tempo, mas até ontem à noite a operação estava confirmada para hoje entre 10h e 14h.
É o segundo lançamento de um foguete em Alcântara desde a explosão do VLS, em 2003, que deixou 21 mortos. A bordo do VSB-30 estão nove experimentos científicos sobre efeito da falta de gravidade.
"O tempo de vôo deverá ser de 20 minutos, sendo seis e meio em condição de microgravidade", diz o tenente-coronel Fausto Barbosa, vice-diretor de Espaço do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço).
Foguetes deste tipo chegam ao espaço, mas suas cargas úteis não entram em órbita do planeta. Eles são usados para missões "suborbitais" com experimentos em altitudes nas quais a força da gravidade da Terra é menos intensa. Esse ambiente de "microgravidade" permite estudos variados em física, química e biologia que não são possíveis em terra.
"A microgravidade dá características que não há como reproduzir na Terra, e a falta de peso retira as diferenças de densidade, o que permite fazer certas misturas, onde não se tem o mais leve e o mais pesado", explica Flávio Corrêa Júnior, coordenador de experimentos da operação. Isso é útil para estudar o crescimento de cristais e reações químicas.
O último vôo de um foguete de sondagem em Alcântara foi o de qualificação do VSB-30, em 2004. O vôo de hoje foi chamado de Operação Cumã 2, nome de uma baía da região. O novo lançamento mobiliza 300 técnicos e cientistas, além dos cerca de 500 que trabalham normalmente no centro.

Ciência básica
Os experimentos a bordo do VSB-30 são todos de pesquisa básica -para produzir conhecimento-, com eventual aplicação tecnológica a longo prazo. Um grupo da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), por exemplo, está fazendo novos testes sobre o efeito da microgravidade na ação de enzimas (proteínas que controlam reações bioquímicas) ligada à indústria de alimentos. O estudo pode ajudar a projetar "biorreatores mais eficientes, de maior velocidade e que demandam menos insumos", diz Alessandro La Neve, da FEI.
Já um teste elaborado por Heitor Evangelista, da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) estuda o efeito do ambiente espacial no material genético de bactérias. Estudo do gênero foi levado à Estação Espacial Internacional pelo astronauta brasileiro Marcos Pontes. Os resultados, e sua comparação com outros estudos, ainda não permitem conclusões maiores sobre o tema.
Já um trabalho da UEL (Universidade Estadual de Londrina) vai testar os parâmetros básicos do vôo do foguete -"apurar o quão bom foi o ambiente de microgravidade", segundo o pesquisador Francisco Granziera Jr. Usando acelerômetros de altíssima precisão, será possível testar a "qualidade" da microgravidade da missão Cumã 2 -dado útil aos outros experimentos.


RICARDO BONALUME NETO viajou a convite da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.


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