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Com atraso, foguete deve partir hoje de Alcântara
Vôo que carrega experimentos sobre falta de gravidade já foi adiado três vezes
Lançamento de um modelo
VSB-30 é o segundo desde o
acidente que matou 21 em
2003; mau tempo atrasa a
operação desde quarta-feira
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A ALCÂNTARA
Com três dias de atraso, deve
ser lançado hoje o foguete brasileiro VSB-30 no Centro de
Lançamento de Alcântara, no
Maranhão. O vôo vem sendo
adiado diariamente desde
quarta-feira por causa do mau
tempo, mas até ontem à noite a
operação estava confirmada
para hoje entre 10h e 14h.
É o segundo lançamento de
um foguete em Alcântara desde
a explosão do VLS, em 2003,
que deixou 21 mortos. A bordo
do VSB-30 estão nove experimentos científicos sobre efeito
da falta de gravidade.
"O tempo de vôo deverá ser
de 20 minutos, sendo seis e
meio em condição de microgravidade", diz o tenente-coronel
Fausto Barbosa, vice-diretor de
Espaço do IAE (Instituto de
Aeronáutica e Espaço).
Foguetes deste tipo chegam
ao espaço, mas suas cargas
úteis não entram em órbita do
planeta. Eles são usados para
missões "suborbitais" com experimentos em altitudes nas
quais a força da gravidade da
Terra é menos intensa. Esse
ambiente de "microgravidade"
permite estudos variados em física, química e biologia que não
são possíveis em terra.
"A microgravidade dá características que não há como reproduzir na Terra, e a falta de
peso retira as diferenças de
densidade, o que permite fazer
certas misturas, onde não se
tem o mais leve e o mais pesado", explica Flávio Corrêa Júnior, coordenador de experimentos da operação. Isso é útil
para estudar o crescimento de
cristais e reações químicas.
O último vôo de um foguete
de sondagem em Alcântara foi
o de qualificação do VSB-30,
em 2004. O vôo de hoje foi chamado de Operação Cumã 2, nome de uma baía da região. O novo lançamento mobiliza 300
técnicos e cientistas, além dos
cerca de 500 que trabalham
normalmente no centro.
Ciência básica
Os experimentos a bordo do
VSB-30 são todos de pesquisa
básica -para produzir conhecimento-, com eventual aplicação tecnológica a longo prazo.
Um grupo da FEI (Faculdade
de Engenharia Industrial), por
exemplo, está fazendo novos
testes sobre o efeito da microgravidade na ação de enzimas
(proteínas que controlam reações bioquímicas) ligada à indústria de alimentos. O estudo
pode ajudar a projetar "biorreatores mais eficientes, de
maior velocidade e que demandam menos insumos", diz Alessandro La Neve, da FEI.
Já um teste elaborado por
Heitor Evangelista, da Uerj
(Universidade Estadual do Rio
de Janeiro) estuda o efeito do
ambiente espacial no material
genético de bactérias. Estudo
do gênero foi levado à Estação
Espacial Internacional pelo astronauta brasileiro Marcos
Pontes. Os resultados, e sua
comparação com outros estudos, ainda não permitem conclusões maiores sobre o tema.
Já um trabalho da UEL (Universidade Estadual de Londrina) vai testar os parâmetros básicos do vôo do foguete -"apurar o quão bom foi o ambiente
de microgravidade", segundo o
pesquisador Francisco Granziera Jr. Usando acelerômetros
de altíssima precisão, será possível testar a "qualidade" da microgravidade da missão Cumã
2 -dado útil aos outros experimentos.
RICARDO BONALUME NETO viajou a convite
da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.
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