|
Texto Anterior | Índice
ARQUEOLOGIA
Sítio está submerso
Homem fazia pão há 23 mil anos em Israel
CRISTINA AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Sob as águas do mar da Galiléia
está a mais antiga evidência da
presença de cereais na dieta humana. Uma pesquisa empurrou
para 23 mil anos atrás o processamento de grãos selvagens de cevada e trigo -nada menos que 12
mil anos antes do esperado.
Naquela época, a humanidade
vivia em pequenos grupos nômades e sobrevivia de caça e coleta.
"Apesar de não termos observado
uma domesticação dos cereais, é
surpreendente descobrir que o
homem produzia farinha de cevada já no [período] Paleolítico Superior", disse à Folha a paleobotânica Dolores Piperno, do Instituto Smithsonian de Pesquisa
Tropical, sediado no Panamá.
Amido
Piperno e o arqueólogo Ehud
Weiss, da Universidade Harvard
(EUA), estudaram um bloco de
basalto retirado do sítio Ohalo 2,
que fica em uma área alagada na
costa do mar da Galiléia, atual Israel. O material continha 127
grãos microscópicos de amido, 23
dos quais foram identificados como de cevada selvagem (Hordeum vulgare) -os outros grãos
possuem estruturas muito similares ao trigo selvagem (Triticum
monococcum e T. turgidum).
Pedras semelhantes foram escavadas em outros sítios no Velho
Mundo, mas até hoje não foram
encontradas evidências conclusivas que mostrem o seu uso para
esmagar cereais. Piperno pretende analisar novamente algumas
peças para tentar responder
quando os primeiros grãos foram
coletados de forma sistemática.
Matzá pré-histórica
Esses cereais eram processados
em pedras de moer e formavam
uma farinha, que era usada para
fazer um tipo de pão. No mesmo
sítio arqueológico, os pesquisadores encontraram pedras queimadas recheadas com cinzas e algumas frutas e grãos carbonizados.
Para eles, essa é uma pista de que
a massa era assada em um forno
rudimentar -provavelmente o
mesmo modelo usado até hoje
por tribos nômades da região.
"O que descobrimos é uma ligação clara do Paleolítico [que durou até 10.000 anos atrás] com
uma prática que se tornou dominante depois no mesmo local",
afirma a paleobotânica.
No ano passado, a mesma Dolores Piperno, 54, descobriu a mais
antiga evidência de agricultura
nas Américas. No Panamá, ela
achou fitólitos (pequenos cristais
fossilizados) de abóboras domesticadas com 10 mil anos. "Há seis
anos mudei meu foco para o Novo Mundo, em busca de estratégias similares [de agricultura] em
outras partes", conta.
Até sua pesquisa, a teoria mais
aceita colocava o México, há 6.000
ou 7.000, como o ponto de origem
do pensamento agrícola no continente. Os dados levantados por
Piperno também sugerem que
populações em zonas equatoriais
foram capazes de domesticar
plantas locais sem ajuda.
Texto Anterior: Balão cósmico Índice
|