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Brasil começa a testar terapia com DNA
Primeiro ensaio clínico do gênero envolve 20 pacientes cardíacos; objetivo é reconstruir vasos sangüíneos do coração
Por não usar vírus para "transportar" genes, técnica que será usada agora em teste no Rio Grande do Sul oferece menos risco
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O primeiro teste clínico a ser
feito no Brasil com um tipo de
terapia com DNA deve começar
dentro de 30 dias. Restam apenas ajustes finais para que dez
pacientes de Porto Alegre (RS)
recebam injeções de material
genético novo. Outros dez farão
parte do chamado grupo controle- eles receberão apenas o
tratamento convencional, como forma de comparação.
A divisão do grupo será feita
por sorteio. O objetivo do estudo é fazer com que ocorra crescimento de tecido de vasos sangüíneos no coração.
"A aplicação principal desse
tipo de terapia celular, no futuro, será em pessoas que não podem passar pela cirurgia da
ponte de safena tradicional",
disse à Folha o cientista Renato Kalil, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul.
"Mas ela não é uma opção a cirurgia. É apenas para quem não
pode ser submetido a ela."
Kalil é o responsável pelo
projeto, que conta com colaborações de outros grupos científicos. Segundo o cientista, todos os pacientes serão acompanhados por um ano, mas os primeiros resultados já poderão
ser detectados em um mês.
Do ponto de vista do paciente, o êxito da terapia significa
que ele terá um melhor desempenho do seu ventrículo esquerdo. Isso, segundo os cientistas, vai resultar em uma
maior tolerância ao exercício
físico, melhor qualidade de vida, diminuição das internações
hospitalares e até em uma redução do custo do tratamento.
DNA injetável
Já testada em várias partes
do mundo, a terapia com DNA
-ou "gênica" como é chamada
entre os pesquisadores"- consiste em injetar uma solução
com um material genético reproduzido em laboratório.
No caso do estudo gaúcho, o
pedaço de gene injetado, quando chegar ao coração, vai estimular o organismo a produzir
uma proteína responsável pelo
crescimento de tecido novo.
Esse DNA é transportado para dentro do corpo humano por
um "veículo" chamado de plasmídeo (moléculas circulares
duplas de DNA, que normalmente existem em bactérias).
"Esse vetor específico foi desenvolvido também no Brasil
pela empresa Excellion, da cidade de Petrópolis (RJ)", disse
Kalil. "Estamos aguardando
apenas a chegada deles, o que
deve ocorrer nas próximas semanas, para começar os testes
clínicos com os pacientes."
De acordo com o médico responsável pelo estudo, as expectativas de sucesso são boas, mas
isso não significa que o tratamento vai estar disponível para
todos os pacientes depois de
um ano. Novas fases de testes
ainda serão necessárias.
Para Kalil, uma das vantagens do método montado em
seu laboratório, é que o vetor
usado para transportar o DNA
até o alvo biológico não usa material originário de vírus, o que
aumenta a segurança do procedimento. Apesar disso, "injetar
plasmídeos "desnudos" pode fazer que com tenhamos alguma
perda de eficiência", diz.
Para os pacientes que vão
participar desse primeiro teste
clínico, os riscos estão relacionados ao pequeno procedimento cirúrgico -para dar a injeção
diretamente no tórax- e à entrada da solução com DNA propriamente dito no organismo.
Enquanto no primeiro caso
pode ocorrer alergias ou outros
tipos de complicações, no segundo não existe nenhum problema já relatado em testes semelhantes feitos no exterior.
Dentro do contexto do tratamento com DNA, os resultados
que serão obtidos em Porto
Alegre poderão ajudar bastante
o caminho desse tipo de estudo.
Após um entusiasmo inicial
com a terapia gênica há, alguns
anos, algumas mortes, sobretudo por causa do uso de vírus associados, inspiraram cautela.
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