São Paulo, terça-feira, 14 de agosto de 2007

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Brasil começa a testar terapia com DNA

Primeiro ensaio clínico do gênero envolve 20 pacientes cardíacos; objetivo é reconstruir vasos sangüíneos do coração

Por não usar vírus para "transportar" genes, técnica que será usada agora em teste no Rio Grande do Sul oferece menos risco

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

O primeiro teste clínico a ser feito no Brasil com um tipo de terapia com DNA deve começar dentro de 30 dias. Restam apenas ajustes finais para que dez pacientes de Porto Alegre (RS) recebam injeções de material genético novo. Outros dez farão parte do chamado grupo controle- eles receberão apenas o tratamento convencional, como forma de comparação.
A divisão do grupo será feita por sorteio. O objetivo do estudo é fazer com que ocorra crescimento de tecido de vasos sangüíneos no coração.
"A aplicação principal desse tipo de terapia celular, no futuro, será em pessoas que não podem passar pela cirurgia da ponte de safena tradicional", disse à Folha o cientista Renato Kalil, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul. "Mas ela não é uma opção a cirurgia. É apenas para quem não pode ser submetido a ela."
Kalil é o responsável pelo projeto, que conta com colaborações de outros grupos científicos. Segundo o cientista, todos os pacientes serão acompanhados por um ano, mas os primeiros resultados já poderão ser detectados em um mês.
Do ponto de vista do paciente, o êxito da terapia significa que ele terá um melhor desempenho do seu ventrículo esquerdo. Isso, segundo os cientistas, vai resultar em uma maior tolerância ao exercício físico, melhor qualidade de vida, diminuição das internações hospitalares e até em uma redução do custo do tratamento.

DNA injetável
Já testada em várias partes do mundo, a terapia com DNA -ou "gênica" como é chamada entre os pesquisadores"- consiste em injetar uma solução com um material genético reproduzido em laboratório.
No caso do estudo gaúcho, o pedaço de gene injetado, quando chegar ao coração, vai estimular o organismo a produzir uma proteína responsável pelo crescimento de tecido novo.
Esse DNA é transportado para dentro do corpo humano por um "veículo" chamado de plasmídeo (moléculas circulares duplas de DNA, que normalmente existem em bactérias).
"Esse vetor específico foi desenvolvido também no Brasil pela empresa Excellion, da cidade de Petrópolis (RJ)", disse Kalil. "Estamos aguardando apenas a chegada deles, o que deve ocorrer nas próximas semanas, para começar os testes clínicos com os pacientes."
De acordo com o médico responsável pelo estudo, as expectativas de sucesso são boas, mas isso não significa que o tratamento vai estar disponível para todos os pacientes depois de um ano. Novas fases de testes ainda serão necessárias.
Para Kalil, uma das vantagens do método montado em seu laboratório, é que o vetor usado para transportar o DNA até o alvo biológico não usa material originário de vírus, o que aumenta a segurança do procedimento. Apesar disso, "injetar plasmídeos "desnudos" pode fazer que com tenhamos alguma perda de eficiência", diz.
Para os pacientes que vão participar desse primeiro teste clínico, os riscos estão relacionados ao pequeno procedimento cirúrgico -para dar a injeção diretamente no tórax- e à entrada da solução com DNA propriamente dito no organismo.
Enquanto no primeiro caso pode ocorrer alergias ou outros tipos de complicações, no segundo não existe nenhum problema já relatado em testes semelhantes feitos no exterior.
Dentro do contexto do tratamento com DNA, os resultados que serão obtidos em Porto Alegre poderão ajudar bastante o caminho desse tipo de estudo. Após um entusiasmo inicial com a terapia gênica há, alguns anos, algumas mortes, sobretudo por causa do uso de vírus associados, inspiraram cautela.


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