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Grupo acha novas espécies de réptil em chapada baiana
Biólogo da USP já identificou dois lagartos e prepara descrição de outros três
Descobertas revelam fauna
única dos campos rupestres,
formação pouco conhecida
e ameaçada por plantações
de eucalipto e aquecimento
Felipe Sá Fortes Leite
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O lagarto Acratosaura spinosa, com cerca de 12 cm, descoberto por biólogos da USP em Mucugê (BA), na Chapada Diamantina
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas novas espécies de lagartos são os frutos mais recentes
de pesquisas sobre a biodiversidade dos campos rupestres da
Chapada Diamantina, ambiente que se caracteriza pelo grande número de animais e plantas
que só existem por lá. E um dos
responsáveis pela descrição
dos répteis avisa: ele já tem
mais três potenciais novas espécies em identificação.
"Entre anfíbios e répteis, várias espécies foram descritas
recentemente e outras tantas
ainda estão por ser descritas",
conta José Cassimiro, doutorando do Departamento de
Zoologia da USP.
A diversidade desconhecida
da região é tamanha que os dois
novos bichos foram achados no
mesmo município -Mucugê,
na Bahia. Cassimiro e seus colegas da USP e da Universidade
Estadual de Santa Cruz (BA)
batizam os bichos, o Acratosaura spinosa e o Gymnodactylus
vanzolinii, em dois artigos na
revista científica "Zootaxa".
Ambos habitam elevações
em torno de 1.000 m, nas áreas
rochosas e de vegetação rasteira que caracterizam os campos
rupestres. São criaturas de apenas 12 cm de comprimento,
mas de aparência singular.
O A. spinosa ganhou o nome
de "espinhoso" em latim por
causa das escamas com quilhas, protuberâncias que dão
ao bicho uma aparência áspera.
Os machos possuem poros característicos nas coxas e nos
genitais, pelos quais são produzidas substâncias que, acredita-se, possam atrair parceiras
ou marcar território.
Já o G. vanzolinii, apesar de
suas belas listras no dorso, é
um primo relativamente próximo da lagartixa "doméstica".
"A lagartixa que conhecemos é
originária da África, possivelmente trazida em navios negreiros", conta Cassimiro.
No artigo em que descrevem
o G. vanzolinii, o biólogo e seu
orientador, Miguel Rodrigues,
aproveitam para esclarecer um
equívoco do zoólogo e compositor Paulo Vanzolini, que já estudou lagartos do gênero. Uma
das espécies batizadas por ele,
a G. carvalhoi, não seria válida.
"Até 2005, só havia uma subespécie de Gymnodactylus no
cerrado, a G. g. amarali. Vanzolini, baseado em um exemplar
jovem e com pele danificada do
Maranhão, concluiu que ela só
ocorria lá, elevou-a à condição
de espécie e resolveu colocar
todos os outros exemplares do
cerrado numa nova espécie, a
G. carvalhoi. Ao examinar esse
animal, vi que ele não se diferencia dos do resto do cerrado", explica Cassimiro.
Parece um detalhe sem importância, mas um inventário
preciso é essencial para entender uma fauna tão única -e
ameaçada. "Em campo, a gente
constata que esse tipo de ambiente vai pelo mesmo caminho que os nossos outros biomas", lamenta o pesquisador.
"Plantações de eucalipto já
são comuns em algumas
áreas", afirma. Além disso,
áreas montanhosas podem ser
especialmente vulneráveis a
mudanças trazidas pelo aquecimento global. "Mas ainda é
cedo para saber quais seriam os
danos a esse ambiente."
Procurado pela Folha, Vanzolini não quis comentar o estudo. "Não se faz debate científico em meio [de comunicação]
para leigo", declarou.
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