São Paulo, sexta-feira, 14 de setembro de 2007

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Físicos acusados de plágio publicam errata de artigo

Grupo da USP admite ter "colado" trechos de outros estudos sem citar a fonte

Reitoria ainda investiga denúncia contra equipe do diretor do Instituto de Física; autor que confessou cópia é o vice da Fuvest

Danilo Verpa/Folha Imagem
O diretor Alejandro Szanto


GIOVANA GIRARDI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O grupo de físicos da USP que foi acusado de plágio pelos próprios colegas publicou uma errata na revista científica "Physical Review C" admitindo que copiou trechos inteiros de outros estudos em um artigo anterior sem citar a fonte.
A "cola" confessa foi cometida, entre outros, pelo diretor do Instituto de Física, Alejandro Szanto de Toledo, e pelo pesquisador Nelson Carlin Filho. Ambos são também membros da Fuvest, a fundação que faz o vestibular da USP -e pune severamente alunos pegos colando. Carlin é vice-diretor da instituição, e Szanto, membro do conselho curador.
A errata é resultado de um processo que vem se arrastando na universidade desde abril, quando denúncias contra Szanto começaram a circular entre os professores. Eles diziam que alguns estudos assinados por ele eram plágios.
A Folha revelou o caso no dia 29 de junho. Na ocasião, Szanto reagiu às acusações e reconheceu apenas a ocorrência de alguns "erros de referenciamento". Disse ainda que o artigo que saiu na "Physical Review C" foi mandado para publicação (submetido) sem o seu conhecimento por outro integrante de seu grupo. Carlin assumiu a culpa e escreveu uma carta à revista dizendo ser o "único responsável pela redação e submissão desse artigo."

Entre aspas
O conteúdo da errata foi publicado no dia 28 de agosto pela revista. No texto, os pesquisadores afirmam que, devido a um "erro lamentável", algumas referências não foram identificadas como fonte de partes do texto (veja quadro acima). Eles ressaltam, no entanto, que isso não afeta os resultados e as conclusões do trabalho.
Foram corrigidos dez trechos, alguns com mais de 20 linhas. Na errata eles foram colocados em itálico e entre aspas, junto com as citações de origem. O formato mostra que eles foram retirados na íntegra de outros artigos.
Para o físico Mahir Hussein, que assina cinco dos artigos referenciados (citados) agora, a errata "comprova que houve um plágio de texto, sim". Hussein é pesquisador recém-aposentado do instituto comandado por Szanto. "A revista "Physical Review C" fez questão de deixar tal fato bem claro ao insistir para os autores dizerem de onde foram tirados os vários trechos plagiados e reproduzir integralmente esses trechos", afirmou. "Se o artigo tivesse originalmente sido submetido com esses trechos como agora são colocados na errata, ele jamais teria sido aceito."
Outros pesquisadores do IF, que preferiram não se identificar por medo de represálias, disseram que a errata pode ser considerada uma confissão de culpa. E que sua publicação é uma vitória. Para eles, só falta a USP tomar uma decisão.
A universidade instalou uma comissão de sindicância para avaliar o caso, mas adotou a postura de não passar nenhuma informação sobre seu andamento à imprensa. O líder da comissão, Antônio Magalhães Gomes Filho, vice-diretor da Faculdade de Direito, limitou-se a dizer que o processo é sigiloso e que ele está no prazo. "A sindicância começou não tem nem um mês", disse à Folha no último dia 6, 69 dias após a publicação da reportagem.
Na reitoria, a funcionária Laura Fusaro foi ainda mais evasiva. "Se a gente diz quando começou ou quando vai terminar, vocês ficam aí querendo saber..." A Fuvest também vai aguardar a decisão da sindicância antes de se posicionar.

Outro lado
A Folha tentou localizar Szanto e Carlin por telefone e e-mail, sem sucesso. O primeiro disse apenas que estava participando de um congresso científico no exterior e somente quando voltasse ao Brasil poderia conversar sobre o assunto. Carlin foi procurado com insistência durante três semanas em julho, e também várias vezes ao longo dos últimos dias. Nunca respondeu.


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