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AMAZÔNIA
Brasil é derrotado em encontro internacional no Chile; exportação da madeira passa a ter controle do exterior
Convenção aumenta proteção para mogno
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
O mogno, árvore tropical ameaçada, ganhou mais proteção internacional ontem. Numa votação na qual o Brasil foi derrotado,
a Cites (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies
Ameaçadas de Fauna e Flora)
aprovou regras mais estritas para
a comercialização da espécie.
Por 68 votos a favor, 30 contra e
14 abstenções, os países-membros da Cites, reunidos em Santiago do Chile, aprovaram uma proposta da Guatemala e da Nicarágua para promover o mogno (nome científico Swietenia macrophylla) do chamado apêndice
3 da convenção para o apêndice 2.
Pelas regras do apêndice 3, no
qual o mogno estava até agora, só
os países exportadores controlam
a origem da madeira. Já o apêndice 2 determina que tanto o país
exportador quanto o importador
realizem esse controle.
Organizações ambientalistas
comemoraram a decisão da Cites.
"É uma grande sensação de vitória", disse à Folha o coordenador
da campanha Amazônia do
Greenpeace, Paulo Adário.
No governo brasileiro, o clima
de confusão em torno do assunto
reinou até o último minuto. A delegação brasileira em Santiago,
chefiada pelo Itamaraty, votou
contra a proposta. Em Brasília,
paralelamente, uma reunião no
Palácio do Planalto determinava
que o Brasil se abstivesse.
A tentativa de mudança de posição foi capitaneada pelo ministro
José Carlos Carvalho (Meio Ambiente), que divergiu do Itamaraty. O ministro, que diz não ver
"dificuldade alguma" no apêndice 2, era a favor da prorrogação do
mandato de um grupo de estudos
montado pelos países produtores
de mogno para avaliar a situação
da espécie, antes de decidir sobre
uma mudança de status na Cites.
Na opinião de Carvalho, a manutenção do apêndice 3 seria incoerente, uma vez o país tem em
vigor, até março do ano que vem,
uma moratória à exportação da
madeira. "No início da tarde, consegui junto à Casa Civil firmar a
nossa posição original [pela abstenção]", disse.
A chefe da delegação brasileira,
Midzi Gurgel Valente, disse não
ter recebido orientação de Brasília
para se abster. "Votamos de acordo com as nossas instruções." Ela
disse não saber se o Brasil iria recorrer da decisão da Cites.
Segundo Carvalho, para o Itamaraty a questão do mogno "não
se resume ao aspecto ambiental".
O Ministério das Relações Exteriores teme que a inclusão no anexo 2 possa gerar barreiras não-tarifárias à madeira do Brasil, pois
países importadores poderiam
alegar que é impossível garantir a
legalidade da madeira e não comprá-la -decisão que não poderia
ser contestada na Organização
Mundial do Comércio (OMC).
Isso criaria uma reserva de mercado para a indústria moveleira
na Europa, por exemplo, depreciando a madeira tropical.
Na prática, esse tipo de barreira
já existe. O Reino Unido, por
exemplo, suspendeu toda a compra de mogno do Brasil.
Além do mais, para o Itamaraty,
o Brasil teria plenas condições de
garantir a legalidade do mogno
por meio do Sisprof (Sistema Integrado de Controle e Monitoramento dos Recursos Florestais),
que ainda não está operando. No
entanto, segundo o Greenpeace,
mesmo com a moratória, 75 mil
m3 saíram do país ilegalmente nos
últimos três anos.
Carvalho afirma que a entrada
no anexo 2 fará pouca diferença.
"Hoje, quase 90% [do mogno] é
para o mercado interno, que não
está sujeito às regras da Cites."
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