UOL


São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BIOLOGIA

Laboratório recria formações de rochas com 3,5 bilhões de anos; em 2002, achado mais velho já havia sido atacado

Estudo questiona o 2º fóssil mais antigo

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Segundo os cientistas, a vida deve ter surgido na Terra entre 4 bilhões e 3,8 bilhões de anos atrás. Mas não conte com evidências diretas e conclusivas disso. Num estudo publicado hoje, pesquisadores espanhóis e australianos põem em xeque a natureza biológica de microfósseis de 3,5 bilhões de anos supostamente deixados por formas de vida primitivas.
É a segunda vez que o fenômeno acontece, em dois anos. No ano passado, outro estudo havia questionado a origem biológica de um conjunto de microfósseis encontrado na Groenlândia, com 3,8 bilhões de anos. Até então, esses eram os mais antigos traços biogênicos já encontrados.
Os próximos da fila eram os vestígios de 3,5 bilhões de anos achados na Austrália, que agora ficam também sob ameaça. A pesquisa foi liderada por Juan Manuel Garcia-Ruiz, do Instituto Andaluz de Ciências da Terra, em Granada, na Espanha.
Para questionar os antigos traços supostamente biogênicos, os pesquisadores não precisaram nem chegar perto dele. Em vez disso, reproduziram em laboratório a química que seria necessária para obter resultados iguais aos vistos na rocha australiana, mas sem envolvimento de seres vivos.
O que obtiveram foi um arranjo de carbonatos que lembrava muito pequenas estruturas tubulares e anelares. São padrões geralmente associados a seres vivos e muito semelhantes aos que antes eram considerados a mais antiga evidência de vida sobre a Terra.
O experimento tem potencial para abalar também as evidências apresentadas pela Nasa, em 1996, de que um meteorito marciano chamado ALH84001 guardava sinais antigos de vida no planeta vermelho. "É a mesma história, o ALH84001 tem agregados de carbonatos, provavelmente também puramente inorgânicos", diz Stephen Hyde, da Universidade Nacional Australiana, co-autor do estudo. "Virtualmente todas as evidências coletadas pela Nasa agora estão sob forte disputa."
No caso da Terra, a despeito do novo estudo, os cientistas têm tudo para acreditar que a vida emergiu no planeta numa época remota. "Não acho que isso vá mudar a noção com que a maioria dos pesquisadores concorda hoje, que é a de que a "vida segue a água" ", diz Christopher Fedo, da Universidade George Washington.
"Estamos bem confiantes de que há 3,8 bilhões de anos a Terra já havia retido uma hidrosfera e de que a vida provavelmente não estava muito atrás... É só uma questão de achar a prova. Certamente esse estudo dá mais um amplo alerta à comunidade científica para proceder com cautela ao interpretar as evidências mais antigas de vida na Terra", afirma.
Segundo Hyde, nem tudo no novo estudo é má notícia para os paleontólogos que procuram os primeiros sinais de biologia terrestre. "Ele pode permitir a determinação de marcadores específicos para a geoquímica da época em que as rochas se formaram."
E talvez haja algo ainda mais incrível acontecendo na bancada de Garcia-Ruiz e companhia. "Materiais como os que achamos poderiam oferecer estrutura de suporte para o desenvolvimento de precursores da vida", diz Hyde. "Não podemos ignorar a possibilidade de que de fato tenhamos encontrado as raízes mais primitivas de "vida". Mas é muito especulativo."


Texto Anterior: Modelos matemáticos: Brasileira conquista uma vaga no MIT
Próximo Texto: Panorâmica - Física: Grupo lança moléculas em estado exótico da matéria
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.