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BIOLOGIA
Laboratório recria formações de rochas com 3,5 bilhões de anos; em 2002, achado mais velho já havia sido atacado
Estudo questiona o 2º fóssil mais antigo
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Segundo os cientistas, a vida deve ter surgido na Terra entre 4 bilhões e 3,8 bilhões de anos atrás.
Mas não conte com evidências diretas e conclusivas disso. Num estudo publicado hoje, pesquisadores espanhóis e australianos põem
em xeque a natureza biológica de
microfósseis de 3,5 bilhões de
anos supostamente deixados por
formas de vida primitivas.
É a segunda vez que o fenômeno
acontece, em dois anos. No ano
passado, outro estudo havia questionado a origem biológica de um
conjunto de microfósseis encontrado na Groenlândia, com 3,8 bilhões de anos. Até então, esses
eram os mais antigos traços biogênicos já encontrados.
Os próximos da fila eram os vestígios de 3,5 bilhões de anos achados na Austrália, que agora ficam
também sob ameaça. A pesquisa
foi liderada por Juan Manuel Garcia-Ruiz, do Instituto Andaluz de
Ciências da Terra, em Granada,
na Espanha.
Para questionar os antigos traços supostamente biogênicos, os
pesquisadores não precisaram
nem chegar perto dele. Em vez
disso, reproduziram em laboratório a química que seria necessária
para obter resultados iguais aos
vistos na rocha australiana, mas
sem envolvimento de seres vivos.
O que obtiveram foi um arranjo
de carbonatos que lembrava muito pequenas estruturas tubulares
e anelares. São padrões geralmente associados a seres vivos e muito
semelhantes aos que antes eram
considerados a mais antiga evidência de vida sobre a Terra.
O experimento tem potencial
para abalar também as evidências
apresentadas pela Nasa, em 1996,
de que um meteorito marciano
chamado ALH84001 guardava sinais antigos de vida no planeta
vermelho. "É a mesma história, o
ALH84001 tem agregados de carbonatos, provavelmente também
puramente inorgânicos", diz Stephen Hyde, da Universidade Nacional Australiana, co-autor do
estudo. "Virtualmente todas as
evidências coletadas pela Nasa
agora estão sob forte disputa."
No caso da Terra, a despeito do
novo estudo, os cientistas têm tudo para acreditar que a vida emergiu no planeta numa época remota. "Não acho que isso vá mudar a
noção com que a maioria dos pesquisadores concorda hoje, que é a
de que a "vida segue a água" ", diz
Christopher Fedo, da Universidade George Washington.
"Estamos bem confiantes de
que há 3,8 bilhões de anos a Terra
já havia retido uma hidrosfera e
de que a vida provavelmente não
estava muito atrás... É só uma
questão de achar a prova. Certamente esse estudo dá mais um
amplo alerta à comunidade científica para proceder com cautela
ao interpretar as evidências mais
antigas de vida na Terra", afirma.
Segundo Hyde, nem tudo no
novo estudo é má notícia para os
paleontólogos que procuram os
primeiros sinais de biologia terrestre. "Ele pode permitir a determinação de marcadores específicos para a geoquímica da época
em que as rochas se formaram."
E talvez haja algo ainda mais incrível acontecendo na bancada de
Garcia-Ruiz e companhia. "Materiais como os que achamos poderiam oferecer estrutura de suporte para o desenvolvimento de precursores da vida", diz Hyde. "Não
podemos ignorar a possibilidade
de que de fato tenhamos encontrado as raízes mais primitivas de
"vida". Mas é muito especulativo."
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