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Astrônomos fazem 1ª foto de um sistema extra-solar
Grupos detectaram diretamente a luz de exoplanetas e flagraram seu movimento
Descoberta veio do Hubble e
de observatórios no Havaí;
técnica anterior detectou
planetas apenas por meio
de distorção em luz estelar
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois grupos independentes
de astrônomos anunciam hoje
ter conseguido avistar diretamente planetas orbitando outras estrelas. Esses corpos celestiais que orbitam outras estrelas já haviam sido detectados de modo indireto e até fotografados antes, mas as imagens
obtidas dependiam de confirmação. Agora, os exoplanetas
foram flagrados se movendo ao
redor de suas estrelas.
Os cientistas descrevem a
descoberta em dois artigos na
revista "Science". Um dos grupos achou três exoplanetas em
torno de uma estrela na constelação do Sagitário usando técnicas especiais para modificar
imagens dos telescópios Gemini e Keck, no Havaí (EUA).
A fotografia obtida pelo método, porém, não é do tipo que
inspiraria efeitos especiais
num filme de ficção científica.
Quem esperava ver algo tão belo quanto as fotos que a sonda
Cassini tira de Júpiter terá de
se contentar agora com uma
imagem um tanto artificial,
processada por instrumentos
de alta tecnologia.
Mesmo assim, dizem os astrônomos, já é um tremendo
avanço. Outras técnicas se valem apenas de efeitos indiretos,
como o chamado "trânsito" -a
mudança de luminosidade que
os exoplanetas provocavam em
suas estrelas ao promover pequenos eclipses. Outra técnica
analisa a oscilação de freqüência da luz da estrela quando ela
"rebola", perturbada pela gravidade de planetas.
Ser capaz de enxergar planetas dá um bocado de flexibilidade à pesquisa, disse à Folha o
astrônomo Christian Marois,
do Instituto Herzberg, de Victoria (Canadá), líder do estudo.
"Para ver o "trânsito", é preciso estar num alinhamento específico com o planeta e a estrela observados, numa órbita
de perfil", explica o cientista,
apontando limites também na
técnica de oscilação. "Os três
planetas que vimos agora, por
exemplo, orbitam muito longe
da estrela-mãe, e para conseguir detectar a assinatura do
rebolado deles seria preciso esperar de 100 a 400 anos."
Segundo Gustavo Mello, do
Observatório do Valongo, no
Rio, que leu o estudos da
"Science", ainda há porém alguma discussão na comunidade científica sobre se os objetos
como os avistados por Marois
são exatamente planetas.
"É bom esperar um pouquinho antes de bater o martelo,
apesar de serem trabalhos convincentes", diz o cientista. Ele
explica que os planetas descritos pelo canadense são até dez
vezes mais maciços do que Júpiter, e isso talvez os qualifique
como "anãs marrons", uma
classe de objeto que é intermediária entre planeta e estrela.
Além de Marois, escreve na
"Science" o grupo de Paul Kalas, da Universidade de Berkeley, que detectou um planeta
com massa bem menor (da ordem de dois Júpiteres), mas
com imagem um pouco ofuscada pelo disco de gás e poeira em
torno de sua estrela-mãe.
Esse mar de detritos é comum em estrelas bem mais jovens que o Sol. Por causa disso,
os planetas descobertos devem
ajudar o debate sobre a formação do próprio Sistema Solar.
Marois afirma que o sistema
descoberto por seu grupo é
mesmo uma espécie de "versão
ampliada do Sistema Solar".
Sua técnica porém, ainda não
vê planetas pequenos como a
Terra. "Para achar esses planetas seria preciso um telescópio
espacial com aparatos muito
modernos", diz. "Podem se
passar 20 ou 30 anos até lá."
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