|
Próximo Texto | Índice
CLIMA
Presidente dos EUA propõe atrelar redução de emissões de gases que causam aquecimento global a crescimento do PIB
Bush lança alternativa a acordo de Kyoto
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Numa resposta a pressões internacionais e domésticas, o presidente George W. Bush anunciou
ontem a tão esperada "alternativa
flexível" dos EUA ao Protocolo de
Kyoto, acordo multilateral para
combater o aquecimento global.
Em vez de reduzir as descargas
dos gases de efeito estufa, o que
Bush propõe é uma desaceleração
do aumento dessas emissões,
atrelada ao crescimento do PIB.
Pela proposta, a chamada intensidade de gases-estufa, ou seja, o
total emitido por milhão de dólares do PIB, deverá ser reduzida
em 18% nos próximos dez anos.
Das atuais 183 toneladas por milhão, espera-se chegar a 151 toneladas em 2012.
O governo também quer dar incentivos fiscais às empresas que
cortarem voluntariamente emissões e anunciou a destinação de
US$ 4,5 bilhões (US$ 700 milhões
a mais que a verba atual) para pesquisa científica e busca de energias alternativas.
"Precisamos reconhecer que
crescimento econômico e proteção ambiental andam de mãos
dadas", disse o presidente ontem
na Noaa (Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica).
Também foi lançada no pacote
contra as mudanças climáticas a
chamada Clear Skies Initiative
(Iniciativa dos Céus Limpos, em
inglês), que propõe cortar em
70% as emissões de três poluentes
do ar -óxidos de nitrogênio
(NOx), dióxido de enxofre (SO2) e
mercúrio- até 2018.
A nova política americana vinha
sendo aguardada desde março do
ano passado, quando Bush rejeitou o protocolo por considerá-lo
prejudicial à economia do país.
Pelas regras do acordo, os países
industrializados teriam, até 2012,
de reduzir em 5,2% (em relação
aos níveis de 1990) suas emissões
de gases de efeito estufa (em particular o gás carbônico, ou CO2),
produzidos principalmente pela
queima de combustíveis fósseis.
Bush, um texano que teve sua
campanha financiada por multinacionais do petróleo, considera
os objetivos de Kyoto incompatíveis com o crescimento econômico do país -cuja indústria depende da energia proveniente de
óleo, gás natural e carvão mineral.
Diz também que grandes emissores do mundo subdesenvolvido
como Índia e China, deveriam ser
obrigados a adotar metas de redução -o protocolo os isenta disso.
Um argumento legítimo, se os
EUA não fossem o maior emissor
desses gases no planeta. O país
mais rico do mundo contribui,
sozinho, com quase 25% das 6,6
bilhões de toneladas de carbono
lançadas todo ano na atmosfera
por atividades humanas. Não bastasse isso, na contramão da meta
do protocolo, os EUA já aumentaram suas descargas de gás carbônico em 11% desde 90.
O recuo de Bush enfraqueceu as
negociações em torno do protocolo, capitaneadas pela União Européia, e ameaçou tornar o acordo letra morta. Em julho do ano
passado, em Bonn (Alemanha), a
UE conseguiu salvar Kyoto, obtendo o apoio do Japão. O país é o
quarto maior emissor mundial de
CO2 e tradicional aliado dos EUA
no tema mudança climática.
Após a salvação do pacto, Bush
ficou isolado dentro e fora de casa. Empresas americanas e alguns
Estados passaram a adotar metas
de redução, temendo perder
competitividade no exterior.
Após conseguir apoio da Europa em sua luta contra o terrorismo, Bush quer apagar de vez a
mancha de isolacionismo na
questão ambiental. Não por acaso, a proposta contra o efeito estufa foi anunciada na véspera de sua
viagem à China e ao Japão.
O porta-voz da Casa Branca Ari
Fleischer disse que Bush discutiu
a proposta com o primeiro-ministro espanhol, José María Aznar, que ocupa atualmente a presidência da UE. Representantes
de países do G-77 (o bloco dos
subdesenvolvidos), como o Brasil, também foram contactados.
Com agências internacionais
Próximo Texto: Entenda o pacto: Protocolo foi concebido em 1997 Índice
|